quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tese sobre o Exercício de Poder

INTRODUÇÃO


Neste trabalho vou tentar fazer uma leitura da obra intitulada “Alice no País das Maravilhas”, um dos mais famosos clássicos da literatura infantil, não como sendo uma história para contar às crianças, mas sim uma obra na qual o autor critica a vivência e os sentimentos da população na época Vitoriana e mais especificamente analisar como é que o autor critica a forma como o exercicio do poder se desenvolvia.

Esta obra foi publicada em 1985, tendo como autor o reverendo anglicano inglês Charles Lutwidge Dodgson,  o verdadeiro nome de Lewis Carroll.

Sabemos que nesta época estava no trono em Inglaterra a Rainha Vitória, que tinha um poder constitucional muito limitado, embora tivesse alguma influência nas resoluções políticas, ela não determinava a polítca a seguir, dado não ter poder de decisão.

Na nossa época por definição considera-se:
  Poder  s.m. direito ou capacidade de decidir; agir e ter voz de mando; autoridade
          Dicionário Houaiss da Lingua Portuguesa, Instituto de António Houaiss de Lexicografia Portugal


Ao nivel social o povo era sufocado pela rigidez da moral e pelas regras sociais. Foi uma época de tensão entre o moderno e a tradição, entre a religião e a ciência, e na qual a literatura passou a ter uma importância crucial na vida dos indivíduos e da sociedade, tendo-lhe sido conferida as funções moralizante (purificar a sociedade dos vícios e ajudar a resolver os seus problemas, apontando para um caminho que proporcionaria o bem-estar e a esperança) e pedagógica (comportamento das senhoras na sociedade, aconselhamento quanto à saúde e à educação dos filhos).




O EXERCÍCIO DE  PODER  NA OBRA DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS


No início do primeiro capítulo, Alice denota um estado de aborrecimento por não ter nada de interessante para fazer.

Se quisermos transpor a personagem de Alice para um individuo pertencente à sociedade Vitoriana, o seu estado de tédio, cansaço, aborrecimento, na realidade, pode ser considerado como sendo causado pela monotonia das regras sociais que se tornavam opressoras, da liberdade de cada indivíduo.

Um pouco mais à frente ainda no início deste primeiro  capítulo, como que de magia se tratasse um coelho branco desperta em Alice a curiosidade da aventura, do prazer, da diversão. 

Alice acaba por entrar na toca sem pensar nas consequências dos seus actos, sem pensar na punição. Esta atitude de Alice seria considerada normal à luz da nossa sociedade, que encara o período da adolescência como um período de procura de novas experiências, mas pode ser também considerada uma transgressão à sociedade da época, em que as crianças eram educadas para se comportarem como adultos. O universo infantil era povoado pelos conceitos de aprovação, medo e culpa. Os adultos recebiam a pressão da sociedade e passavam-na para as crianças. Os pais representavam a moral da sociedade.

O autor nesta passagem critica a sociedade da època, as suas regras rígidas , a educação das crianças, a opressão a que a população em geral estava sujeita, não cumpre logo desde o início da sua obra nem a função pedagógica nem a função moralizadora que eram atribuídas à literatura da época.

Ao longo de todo o livro Alice depara-se no seu caminho com imensos obstáculos. Quando Alice tem de transpor uma barreira, ou seja, precisa de um saber e de um poder para transpor o obstáculo, estes saber e poder são-lhe dados mágicamente (objectos que aparecem, mudanças de tamanho que acontecem,transformações físicas).

Estes elementos mágicos que aparecem a Alice, podem ser entendidos como uma critica à sociedade Vitoriana, que desenvolvia um tipo de pensamento lógico e racional, e à necessidade de um trabalho muito àrduo para se conseguir qualquer objectivo, muito próprio da forma de pensar do séc. XlX.
Assim o autor consegue criticar a moralidade dogmática religiosa e a postura rígida, racional e opressora da sociedade, que pensava assim poder resolver todos os problemas da sociedade.

No final do livro aquando do julgamento podemos verificar que apesar de os seres mágicos temerem a rainha de copas, as sua ordens de decapitação, nunca são cumpridas.
A rainha de copas é considerada como irritadiça e autoritária que vê nas decapitações solução para todos os problemas.

Esta rainha é também considerada como possuidora de um julgamento simplista e duvidoso.
Alice enfrenta a autoridade da rainha de forma aberta quando a encontrou pela primeira vez e por fim no tribunal.

Esta atitude de Alice de enfrentar a rainha de copas é uma maneira de se opor ao poder que esta representa, em busca da libertação da rigidez das regras sociais que só era possivel a nivel da fantasia, dado que na sociedade real isto seria impossível de acontecer.

Mais uma vez vemos que o autor faz uma critica à sociedade Vitoriana, por um lado incapaz de se contrapor ao poder como Alice fez no seu mundo de fantasia e também directamente à figura da Rainha Vitória, que sendo uma importante figura a nível social e económico, no entanto acabava por ser uma figura sem qualquer poder, assim como a rainha de copas ao longo da história.

O regime politico em Inglaterra desse período era a monarquia parlamentarista, regime no qual se adopta o sistema parlamentar de governo, no qual o monarca não governa, assumindo apenas a função de Chefe de Estado, que é um cargo representativo. O poder é exercido pelo Ministro de Estado, ou Primeiro Ministro.




CONCLUSÃO


A leitura desta obra é difícil, dado que só depois de fazer uma pesquisa sobre o autor e perceber o contexto histórico em que ele se encontrava, é que consegui perceber as analogias que o autor faz entre as personagens desta história com a população da época e os orgões de soberania.

Ao contrário da literatura da época este livro de Lewis Carroll não é escrito com a função de educar ou moralizar. O autor por trás de um livro aparentemente destinado às crianças faz um apelo à reflexão, levando o leitor a pensar na possibilidade da existência de um mundo diferente, representado no País das Maravilhas como um refúgio mágico, no qual os individuos se podem libertar da opressão do poder, das regras sociais impostas pelo poder e assim viver aventuras e experimentar o proibido, sem medo das punições.

Lewis Carroll, utilizando um discurso diferente do que era utilizado na sua época, mostra a sua insatisfação com asociedade que o rodeia, e também uma vontade de agir de forma a modificar esta sociedade, embora seja no plano do sonho, da fantasia que a literutura lhe permite.

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