terça-feira, 3 de maio de 2011

Alice no País das Maravilhas

O livro “Alice no País das Maravilhas”, da autoria de Lewis Carroll, é um emaranhado de acontecimentos, com personagens variadas, desejos encobertos e principalmente mensagens subliminares e alusões de carácter e moral, permitindo as mais variadas interpretações. A história não tem uma sequência lógica, pelo que Alice penetra naquele mundo encantado, vai deparando com elementos estranhos à medida que percorre o seu caminho, embora alguns deles nem estejam plenamente inseridos na história. Além disso, esta personagem passa por várias experiências, descobre factos novos, lida com as mais diversas situações e com elementos estranhíssimos e de carácter duvidoso.
Da pesquisa que efectuei sobre este livro, pude aperceber-me que é uma crítica ao período histórico em que está inserido, dado que põe em questão os padrões sociais instituídos pela sociedade vitoriana e particularmente porque se afasta do modelo normalizado de literatura simultaneamente pedagógica e moralizante. Na época em que este autor publicou “Alice no Pais das Maravilhas” estava no trono a Rainha Vitória, que embora fosse uma figura importante na sociedade inglesa, tinha o seu poder limitado, aliás como a Rainha de Copas do Pais das Maravilhas.
Existem estudos que apontam que este livro faz alusões à adolescência, comprovadas nas passagens em que Alice procura a sua identidade, crescendo de forma desenfreada, construindo o seu carácter e mesmo a sua identidade. Por outro lado, também se encontra nas passagens em que Alice se sente diminuída, tentando mostrar que é mais inteligente do que é. Tudo isto são comportamentos próprios de adolescentes.
De todas as temáticas patentes nesta publicação, passo a salientar duas delas: a ideia de justiça e a relação de Alice, consigo própria e com os outros.
Referindo-me à primeira abordagem, a ideia de justiça é vista como a “lei dos mais fortes”, pois quem ganha são sempre os mais privilegiados… A palavra justiça,  de uma maneira simples, diz respeito à igualdade de todos os cidadãos. É um princípio básico, cujo objectivo é manter a ordem social através da preservação dos direitos legais. No entanto, todos nós sabemos que não é assim que se passa na realidade.
A principal ideia de justiça nesta obra encontra-se no facto de o rato não gostar nem de cães nem de gatos. Segundo relata o rato, certo dia, encontrava-se este no quintal, quando uma cadela, Fúria, o quis levar a tribunal, com o objectivo de o condenar por injúria capital. O rato, ao tentar defender-se, afirma que esta ideia não iria resultar, já que não havia juiz, nem jurados para o julgar. Fúria prontificou-se a assumir estas duas funções, pois o derradeiro objectivo era comer o pobre rato. Na verdade, se a cadela tivesse o poder total, ou seja, ocupasse as duas referidas funções, sabia de antemão que sairia ganhadora deste confronto.
Dito isto, podemos concluir que a decisão cabe sempre ao mais forte, neste caso ao de maiores dimensões, por se acharem superiores aos outros; o rato tem tantos direitos quanto outro animal qualquer, logo não deveria ser menosprezado pela cadela. Apenas é tratado assim, por ser pequeno e por não ter condições para competir com a cadela.
Mais adiante, podemos encontrar outro exemplo de justiça, melhor dizendo de injustiça, como é o caso do julgamento do Valete. Não existem fundamentos que possam levar à condenação deste, apenas uma prova, que nem isso pode ser considerada como tal, pois não prova que tenha sido ele quem roubou as tartes. No entanto, o Rei e a Rainha querem condená-lo mesmo não havendo provas concretas.
Aqui podemos observar que o poder absoluto encontra-se nas mãos dos de condição superior, como sendo o rei e a Rainha, podendo dispor de todos e tudo como bem entenderem. Tomam, então, todas as decisões, quer existam provas adequadas ou não, demonstrando que este poder, representado nos tribunais através da justiça, nem sempre é posto em prática de forma neutral e íntegra.
Relativamente à relação de Alice consigo própria e com os outros, esta vai alterando-se ao longo de todo o livro. Todas as alterações que Alice sofre, tanto físicas como psicológicas, interferem no seu bem-estar. No início, sempre que ela come ou bebe, o seu tamanho altera-se, crescendo e diminuindo demasiado, alternadamente, consoante o seu desejo.
Alice chega a falar consigo própria, ao ponto de se auto punir pelo que está a fazer. Isto acontece, quando esta chora compulsivamente, devido ao facto de os seus pés ficarem cada vez mais longe do seu alcance. Mais tarde, já de tamanho reduzido, culpa-se por ter chorado daquela forma, pois escorrega, correndo o risco de se afogar nas suas próprias lágrimas.
Ao longo do livro, Alice começa a ter mais consciência das suas atitudes e comportamentos, admitindo ter errado ao tomar algumas decisões, o que a leva, doravante, a ponderar melhor antes de fazer seja o que for. Além disso, reconhece que as suas características são diferentes de outras personagens da história, como por exemplo as cartas e os outros animais, pois na verdade, estes não passam do fruto da sua imaginação e como tal não têm qualquer poder sobre ela. Isto demonstra o seu amadurecimento, pois alguém da sua idade não chegaria a essa conclusão tão rapidamente como Alice o fez, provavelmente ficando isso a dever-se às aventuras e descobertas por que passou.
No que diz respeito à sua relação com os outros, esta é muito diversificada e vai alterando-se de acordo com as pessoas e animais com quem ela se relaciona. No decorrer da história, Alice conhece vários animais: um rato, aves, pássaros e lagarto, sendo de referir que a sua relação com eles não é de todo amistosa. Aos primeiros dois, Alice fala-lhes sobre cães e gatos, nomeadamente da sua própria gata, Dinah, sem se lembrar que por norma são animais que não se entendem com ratos nem com pássaros, e como tal estes fazem-lhe ver isso, deixando-a muito triste com as suas observações. Aos restantes animais, Alice também os aborrece, chegando inclusive a insultá-los, embora sempre sem intenção. Por ser tão imatura, nem se dá conta do que faz ou diz, mas quando fala é arrogante e só pensa nela.
Outra situação em que se denota a péssima relação com os outros, é quando Alice insiste em sentar-se à mesa com o Arganaz, a Lebre de Março e o Chapeleiro, mesmo estes dizendo para não o fazer, ela contradi-los e senta-se na mesma. Como não a queriam ali com eles, chegam a ser desagradáveis com ela, para que esta fosse embora.
Alice é uma menina que demonstra gostar de acção e aventura ao enveredar nesta aventura, mesmo tratando-se apenas de um sonho, no entanto quando desperta para a realidade, tudo indica que inicia uma nova fase da sua vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário