terça-feira, 3 de maio de 2011

Exercício(s) de poder no livro da Alice no Pais das Maravilhas

Eu vou desenvolver um dos temas sugeridos pelo professor,”Exercício(s) de poder”. Vou descrever e explicar pormenorizadamente alguns dos episódios que sucederam na “Alice no Pais das Maravilhas” que têm a ver como abuso e/ou mau uso do poder que cada um acha que tem. Muitas vezes no decorrer do livro, lê-mos passagens que, no nosso mundo, não parecem fazer qualquer sentido, quer por não serem justas, quer por não fazerem qualquer sentido ou até mesmo pelo abuso excessivo de poder sobre alguém que, a meu ver, deveria ser tratado com igualdade ao abusador.
Ao falar sobre alguns dos exercícios de poder que se observam no livro d’Alice vou também desenvolver outro tema “A ideia de justiça”, porque um interage com outro. Para falar de exercícios de poder terei também que falar sobre a ideia de justiça porque é, na maior parte das vezes, o facto de a ideia de justiça no Pais das Maravilhas estar alterada, da nossa perspectiva, que faz com que existam abusos de poder. Se a justiça fosse encarada como no nosso mundo, os exercícios de poder eram diferentes, seriam criticados. Hoje em dia, na nossa vida, existimos a vários exercidos de poder, mas não irei desenvolve-los.
Por definição igualdade é um princípio pelo qual todos os cidadãos podem invocar os mesmos direitos, é uniformidade. Por definição justiça é virtude moral que inspira o respeito pelos direitos de cada pessoa e a atribuição do que é devido a cada um. Por definição um julgamento é um audiência em que se produzem, se analisam e se criticam todas as provas trazidas ao conhecimento do tribunal, o qual aplica as regras de direito adequadas à situação apurada e profere uma decisão
Neste primeiro episodio que vou descrever a ideia de justiça e igualdade não parecem correctas.
Na página 35 no livro temos uma passagem entre a Fúria e o Rato, em que a Fúria quer comer o rato. “Serei juiz e jurada” – sendo juiz e jurada nunca poderá ser imparcial. “(…) era ideia dela comê-lo (…)” – ela queria comê-lo e não iria dar-lhe nenhuma hipótese de defesa, não há negociação nem discussão. Ora, perante a definição de justiça pela qual nós nos regemos esta passagem é injusta, a Fúria, que é igual ao Rato em termos de poder, é injusta para com o Rato.
Na página 92 a 95 do livro temos outra passagem onde é demonstrado um abuso de poder. Disse uma carta “(…) esta aqui devia ter sido uma roseira de rosas vermelhas, mas por engano plantamos uma de rosas brancas; (…)” “Cortem-lhes as cabeças” – disse a rainha. A rainha abusa visivelmente do seu poder, ela manda cortar as cabeças aos jardineiro sem razão aparente, na minha opinião ela só o faz para que todos tenham medo dela e por isso façam o que ela manda sem a questionarem. Ela usa o poder que tem para fazer com que o seu povo, que ela deveria proteger e zelar, não a questione e faça todo o que ela manda, que lhe dêem tudo o que ela quer.
Na pagina 97, Alice fora convidada pela ranha para jogar croquete mas o campo não era como ela esperava. “as bolas de croquete eram ouriços-cacheiros vivos, os tacos eram flamingos, e os soldados tinham de dobrar-se e ficar de gatas, para fazerem de balizas” temos aqui outro exemplo de mau uso de poder, a rainha quer jogar croquete e para isso usa o seu poder e o medo que  todos têm dela para fazer com que façam o que ela quer e sofram para a rainha ter o seu jogo de cróquete. É um abuso de poder por parte da rainha, não há justiça nem igualdade nesta passagem.
Na página 100 do livro o rei diz á rainha, “minha querida gostava que tirasses dali aquele gato!” “a rainha só conhecia uma maneira de tratar de todos os problemas, graves ou insignificantes.” “Cortem-lhe a cabeça! – ordenou”. Nesta passagem a rainha abusa outra vez do seu poder. Mesmo sem saber qual o problema, sem ouvir o gato, sem, ouvir o que quer que fosse ela manda cortar a cabeça ao gato, sem saber ou querer saber, as circunstâncias. Não existe qualquer tipo de julgamento, de possibilidade para o gato se defender, e ninguém a contesta porque todos tem medo dela.
Na pagina 136 e 137, Alice é chamada a depor num julgamento sobre quem comeu as tartes da rainha. “Que sabes tu sobre este assunto? – perguntou o Rei a Alice.” (…) “Nada de nada – declarou Alice” “Isso é muito relevante – disse o Rei, virando-se para os jurados, que começaram a assentar a palavra nas ardósias”. Nesta passagem do livro, quem exerce o poder é o Rei, ele não sabe nada sobre como conduzir um julgamento, não sabe ser coerente, não sabe o significado das palavras, fala sem saber do que esta a falar e, no entanto, todos os elementos presentes fazem o que ele diz, aparentam respeita-lo embora na verdade o temam. Este julgamento não segue regras nenhumas, não é um julgamento onde as provas apresentadas sejam relevantes, de maneira alguma, para a sentença do acusado. Ter um julgamento como este é o mesmo que não ter nenhum pois o juiz, os jurados, as testemunhas, nenhum deles sabe ao certo o que fazem ali, o Rei finge que sabe o que faz mantendo uma aparência de quem sabe do que fala, os jurados não escrevem coisas relevantes para o caso mas sim o que o Rei lhes manda escrever, nada neste tribunal este de acordo com as normas de um julgamento.
Por fim, na pagina 137 e 138, o julgamento continua, agora, com o Rei a dizer: “Artigo Quadragésimo-segundo (…) é o artigo mais antigo do código.” “Então devia ser o Primeiro – lembrou Alice.” Outra vez, o Rei prova que não sabe o que faz, não estudou Direito, inventa Artigos de código, mente, e mesmo assim ninguém, sem ser Alice, parece contesta-lo. Todos têm medo dele e mesmo que não tenham, não sabem melhor do que ouvir e obedecer, pois foi assim que aprenderam.
Podemos concluir que no livro da “Alice no País das Maravilhas” a ideia de julgamento, igualdade e justiça não se aplicam ou aplicam-se de maneira que não parece ter algum sentido. De todas as passagens aqui descritas, nenhuma delas tem uma ideia correcta sobre a justiça, um julgamento ou sobre a igualdade. As figuras de poder não o sabem usar sem ser para seu proveito, em vez de o usarem para implementar ordem, paz, igualdade, justiça, usam-no para terem o que querem sem que ninguém pergunte nada, sem que ninguém possa ter direito a uma opinião sequer, é um mundo imaginário onde esta tudo de pernas para o ar.

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