segunda-feira, 2 de maio de 2011

As relações de Alice consigo mesma e com os outros

Desde o início do livro Alice no País das Maravilhas, da autoria de Lewis Carroll, que reparamos no quanto a personagem principal (Alice) é diferente de todas as outras. Ao longo da obra, Alice vai formando relações com as outras personagens, umas boas e outras más, e também consigo mesma.
No capítulo I, Alice encontra-se à beira-rio com a sua irmã quando vê um coelho branco a passar. Não fica impressionada ao ouvir o coelho a falar. Aliás, naquele momento achou tudo muito natural, e a única coisa que a espantou foi o facto de ele conseguir ler as horas. Segue-o para a sua toca e cai lá dentro.
Alice chega a um átrio rodeado de portas, todas elas fechadas e apenas uma, de 30 centímetros, com a chave para abri-la. Neste átrio, há uma mesa no centro com um frasco em cima a dizer “bebe-me”, e é isso que ela faz, começando assim a diminuir de tamanho. Esta situação deixa-a nervosa porque, se não parar de diminuir, poderá vir a desaparecer como a chama de uma vela. Caminhou para a porta, apenas para descobrir que se esquecera da chave em cima da mesa. Começou a chorar, mas depressa se recompôs, ralhando consigo mesma como se estivesse a ralhar com alguém que não ela, pois gostava de fingir que era duas pessoas. Contudo, naquele momento, ela achava que não valia a pena fingir, pois mal chegava para fazer uma pessoa respeitável.
Neste capítulo podemos ver o quanto Alice pode ser dura consigo mesma, distanciando-se tanto de si mesma que chega a imaginar que é duas pessoas em vez de uma, pondo em questão a pergunta “o que sou eu?”.
Mas esta não é a única dúvida que surge na história, como podemos ver no capítulo II, quando Alice, devido ao facto de se sentir estranha e diferente, pensa que foi trocada por uma menina da sua idade, surgindo assim a pergunta “quem sou eu?”.
Com estes exemplos podemos ver como Alice se relaciona consigo própria, mas a maior parte da acção decorre enquanto Alice está a interagir com outros, deixando transparecer a sua verdadeira personalidade.
No capítulo IV, o coelho branco confunde-a com a sua criada e manda-a ir buscar um par de luvas e um leque. Noutra situação, Alice acharia o coelho inofensivo mas, devido ao facto de estar com um tamanho mais pequeno que o normal, assustou-se e obedeceu-lhe imediatamente, sem sequer lhe corrigir o erro, o que mostra uma ligação evidente entre o seu tamanho e a sua coragem.
Alice é uma rapariga teimosa, que não gosta de ser contrariada, e que faz as coisas à sua maneira quando acha que os outros estão errados, aspectos estes que estão presentes em muitas partes da obra, como no capítulo VI quando a Duquesa diz que há muita coisa que Alice não sabe, fazendo com que esta ficasse chateada, ou no capítulo VII quando a Lebre de Março e o Chapeleiro lhe dizem que não há lugar para ela mas, vendo cadeiras vazias, senta-se à mesma. Ao fazerem reparos pessoais, Alice riposta fazendo comentários bruscos, perdendo a paciência e mostrando antipatia para com as personagens que acabou de conhecer e calando-se quando não encontrava respostas para as questões deles.
Avançando para o capítulo VIII, Alice conhece o rei e a rainha. Ao ver que eram apenas um baralho de cartas, responde-lhes rudemente e com temeridade, sem medo das consequências, dando a entender que, quando se encontra frente a frente a alguém que não seja intimidante, deixa a sua vergonha de parte e torna-se defensiva e antipática, sabendo que desta atitude não virá nenhum mal. Embora aja desta maneira, muitas vezes sem sequer se dar conta, também tem um lado bondoso, demonstrado pela sua vontade de ajudar os habitantes daquele País a escaparem à rainha e à sua mania de cortar cabeças e a sua tentativa de fazer com que o tribunal julgasse o Valete justamente.
Em conclusão, nesta obra de Lewis Carroll a personagem principal cria relações peculiares consigo mesma e com os outros, fazendo assim com que consigamos ver a sua personalidade a desenvolver-se de uma menina teimosa, cheia de dúvidas sobre si própria, que não consegue ganhar a amizade de ninguém, para uma jovem temerária e algo altruísta, transformação esta que marca, na minha opinião, a sua passagem da infância para a adolescência.

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