segunda-feira, 2 de maio de 2011

Alice e a Justiça

“Alice no País das Maravilhas” é um livro um pouco peculiar. Digo isto porque, ao decorrer desta obra encaramos variadíssimas situações que evidenciam o que nós acreditamos ser a “realidade”. Uma destas situações é o conceito de justiça. A Justiça no mundo de Alice, ao contrário da realidade, é uma acção exercida por alguém em poder, ou seja, alguém superior a todos. Por outras palavras, o Rei ou a Rainha (na obra “Alice no País das Maravilhas) é que decidem a condenação do sujeito e não com a utilização de grupos de Jurados para ajudarem estes a chegar a uma decisão.
Na minha opinião, as técnicas jurídicas utilizadas nesta obra são de certa forma injustas e egoístas. Isto porque, se por exemplo um sujeito for de facto inocente de violar uma certa lei da sociedade, a pessoa com poder é que decide, mesmo se este for inocente. Esta liberdade que O Rei e a Rainha de copas possuem na obra, vai permitir que estes “inventem” as leis que quiserem sem consequências para condenar o sujeito em depor. Podemos verificar isto a acontecer no Capítulo 12 – “O Depoimento de Alice”: - “ (…) Nesse momento, o Rei, que estivera ocupado a apontar qualquer coisa no livro, pediu silêncio e leu em voz alta: - Regra número quarenta e dois: Todas as pessoas que tenham mais de mil e quinhentos metros de altura deverão abandonar o tribunal (…)”. Neste excerto, o Rei (para seu próprio beneficio) inventa naquele preciso momento, em que Alice está em depor, para a fazer sair do tribunal.  
O Rei e a Rainha, ao longo do tribunal, vão chamando várias pessoas para o depoimento para as interrogarem, mas isto não os vai ajudar a decidirem a condenação do Valete. Isto porque, eles sabem que estão superiores aos outros e que têm poder, ou seja, não querem mesmo saber da opinião nem das histórias dos outros, pois o que interessa nesse tribunal é a decisão deles e não a dos outros. Isto é demonstrado no Capitulo 12 – “O Depoimento de Alice”: - “ (…) O Rei empalideceu e fechou o livro, à pressa. – Considerem o vosso veredicto – (…) – Ainda há mais depoimentos, com licença da vossa majestade – (…)”. Neste excerto, o Rei já tinha tomado a sua decisão e queria despachar para o veredicto, porém o Coelho Branco evidencia que haviam mais depoimentos. Isto demonstra como o Rei não quer saber dos depoimentos daquele tribunal. Penso que eles ao utilizarem estes testemunhos, tentam de certa forma esconder um pouco o seu poder de decisão para não aparecer muito transparente e óbvio para o resto das pessoas naquele tribunal.
Quando o Coelho Branco, num determinado momento do tribunal, recebe uma carta sem indicação de quem escreveu e a quem ia ser dirigida a carta, o Rei e a Rainha, tentam culpar o Valete de a ter escrito, só para terem uma prova para o condenarem. Porém, esta carta não era de facto uma prova concreta que evidenciava que o Valete tinha cometido o crime. Mas, como eles queriam mesmo que ele seria castigado, eles inventam ao decorrer do tribunal, histórias e provas falsas (como a carta) para tentar provar aos outros presentes que o Valete era então culpado dos seus actos. Isto acontece no Capítulo 12 – “Depoimento de Alice”: - “ (…) – E a letra é do prisioneiro? – (…) – Ele deve ter imitado a letra de alguém – (…) – Se tu não os assinaste, isso ainda torna a situação pior – (…) – Isso prova a tua culpa! – (…)”. Neste excerto, O Rei e a Rainha, vão dizendo o que lhes vêm à cabeça, ou seja, dizem tudo o que eles acham que puderam ser provas do crime do Valete.
Depois de o Coelho Branco ter lido a carta em voz alta para todo o tribunal, o Rei para explicar à Alice o significado da carta, diz a opinião dele. Por outras palavras, ele comenta a escrita para que a carta fosse utilizada como prova. “ (…) - «E nós sabíamos que era verdade…» Isto é o júri claro… «Eu dei-lhe uma, eles deram-lhe duas…» Ora isto deve ser o que fez com as tortas, sabem? (…)”.
Porém, o tribunal não é o único exemplo que evidencia o conceito de justiça na obra. Existe um poema no Capitulo 3 – “ Uma Maratona Eleitoral e uma Longa História”, que envolve um gato e um rato. O Poema trata de uma conversa entre estes dois animais, onde o gato quer levar o rato a tribunal. Porém, o rato diz que não valia a pena haver tribunal, pois não haviam nem juízes, nem jurados, na vida real sem estes componentes não haveria de facto tribunal. O gato então conclui dizendo que ele próprio vais ser os juízes e os jurados, porque ele só quer condenar e castigar o rato. Este exemplo também demonstra o principal factor da justiça nesta obra… a condenação.
Para concluir queria dizer que a justiça nesta obra de Lewis Carrol, foi já utilizada em tempos atrás, mas com a subtileza da escrita deste autor faz com que este conceito se torne fantástico e repleto de fantasia, pois o livro fala disso mesmo… da fantasia, do fantástico e da imaginação de todos nós.

Sem comentários:

Enviar um comentário