terça-feira, 3 de maio de 2011

De Criança para Adolescente - em busca da autodefenição

Em toda a escrita o tópico pelo qual me fez questionar em todo o livro, foi a autodefinição e todas essas metamorfoses que foram surgindo e evoluindo ao longo da história. Em tantas transformações sofridas e encontros no mínimo extraordinários na toca do coelho, longe da família, da escola, das actividades e círculos sociais, a resposta procurada poderá ser a errada, porque requer de Alice a retoma da própria essência, tal como qualquer outra pessoa (até mesmo eu) o que era uma tarefa imensa sem passar pelo “País das Maravilhas”, ou seja, por toda aquelas mutações ao longo da própria aventura… a vida!
Tomando a entrada na toca do coelho como a entrada de Alice na adolescência, esta não sente problema nenhum em ganhar coragem para entrar numa aventura de crescimento onde foi assistindo a várias mudanças no seu “mundo”, tanto físico como mental. Tal como a confusão sobre o aumento e diminuição de tamanho, que lhe faz pensar "Talvez acabe por desaparecer completamente, como uma vela".
É um típico do pensamento de uma adolescente ingénua em face de desenvolvimento do corpo e de sentimentos novos. Um espelho de metamorfoses que ninguém acompanha sem se questionar de como poderia ficar, de quem iria ser, e em quem é que se poderia estar a transformar. E é assim que Alice começa a melhorar a sua aprendizagem com aquilo que lhe acontece, por exemplo: quando bebe da garrafa que, sem conter qualquer vestígio de veneno, dizia “Bebe-me” e começa a encolher bastante, ao ver uma caixa que dizia “Come-me”, já ficou mais desconfiada e propícia a fazer certos raciocínios do género “se aquilo que diz “bebe-me” faz com que diminua então o contrário faz com que cresça”.
Ainda assim, não é só o aperfeiçoamento do raciocínio que esta posto em causa, o facto de Alice não ter obedecido à proibição de beber a garrafa, demonstra uma certa rebeldia por parte dela, a chamada “fase do armário”.
A isto adiciona-se também o jogo de palavras, frases que nos obriga a pensar nos vários significados que as coisas podem ter – como por exemplo: os gatos que comem morcegos, os catos que comem morguegos e por aí adiante –, do meu ponto de vista esta desordenada construção de palavras pode ser considerada como se naquele momento, Alice, começasse a ver o mundo em redor de várias perspectivas pois nem tudo pode ser apenas aquilo que está de caras...
Alice era uma rapariga com um muito mau sentido de oportunidade, dizia sempre as coisas na pior altura e sempre despistadamente, por modelo: quando encontra o rato e diz-lhe que tem uma gata que é valente a caçar ratos. Ao longo do seu crescimento e das suas experiências, nota-se que Alice já tem um maior e melhor controlo naquilo que diz. Este é mais um dos factores que provam a sua evolução mental.
Como em qualquer transição, um indivíduo no seu crescimento vai ter que estabelecer posições quer a si mesmo quer na sociedade em que está envolvido, saber distinguir o certo do errado, e para isso, tem que ter as noções justiça e democracia bem definidas na forma de como as pode ou não estabelecer. Do meu ponto de vista, justiça só se faz se as pessoas, independentemente do eu poder, agem de forma imparcial. A democracia divide-se em duas vertentes: a forma – onde se inclui a discussão e negociação da situação e das decisões a tomar – e o conteúdo ou assunto.
No livro, apenas uma pessoa tomava decisões e posições consoante o que lhe desse jeito utilizando o poder que lhe era cedido em prol das suas vontades e jamais poderiam ser postas em evidência. Isto acontece no XI e XII Cap. No julgamento do Valete em que o Rei (Arbitrário) e a Rainha de Copas o acusam de comer as tartes da Rainha e juntamente com outros, Alice também presta o seu depoimento. Enquanto sentada, a personagem começa a aumentar significativamente de tamanho – ou seja, desta maneira é-lhe cedido certo poder – e começa a dizer aquilo que pensa entre outras coisas sem qualquer receio, estando até esse momento calada. Tendo em conta o conceito de democracia, para mim, o acto de Alice não é considerado democrático mas ainda assim, tomou uma posição mesmo que tivesse recorrido ao extremo de exercer poder sobre os mais pequenos (abuso de poder), para fazer o que achava mais correcto.
No quinto capítulo, Conselhos de uma Lagarta, a filosofia profunda aparece como um inocente diálogo infantil. “Quem é és tu?”, está posta a própria existência em questão.
Esta noção de “eu” é um elemento importante na separação do interior da personagem em que não há uma definição completa entre “o que sou?” e “quem penso que sou?”. Posso afirmar, de que esta é uma correspondência indirecta entre aquilo que sou e aquilo que penso que sou – neste caso, Alice – o que se identifica com a psicologia adolescente.
As questões da autodefinição, como o próprio nome indica, fazem parte de todo o nosso percurso enquanto seres humanos vivos. As crises da procura interior verificam-se em todas as etapas da nossa vida (infância, adolescência, idade adulta e velhice) mas não há dúvida que a adolescência é a fase mais afectada por estes dilemas. A pessoa sente-se confusa, perdida à medida que se vai deparando com a realidade do mundo em que habita e com a sua complexidade. No período da adolescência, nós jovens, somos constantemente confrontados com um vasto conjunto de casos novos, para as quais, na maioria dos casos, não está preparado. Gera-se assim um conflito interior em que nos sentimos incapazes de ultrapassar essa barreira, por não achar as respostas procuradas. Apesar de tudo, é uma batalha que se vai vencendo, à medida que nos vamos conhecendo a nós próprios.
Este livro conta a história de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas particulares e antropomórficas, revelando a lógica do absurdo característico dos sonhos misturando factores tanto políticos, como sociais, como pessoais. A criação dum mundo paradoxal em que o autor tenta desafiar leitor a pensar no que muitas pessoas evitam de fazer, que é, parar e interrogarem-se com uma das perguntas mais simples e essenciais para o nosso próprio conhecimento: “Quem sou?”, “Quem quero ser?”, “Que posições, quero tomar, ao longo da minha vida?”... e tudo através dum exemplo básico, como se todas as aventuras fossem acontecimentos fenomenológicos, inconscientes, infantis, e no entanto, profundo, o sonho de uma criança onde abriu as portas de uma forma inócua para o verdadeiro mundo que lhe espera.
Deixo a questão :
Quem é que nunca deu por si a reparar na sua evolução e a pensar no porquê da sua existência?
Jolei Pena

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