segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Sétimo poema em "A Mensagem" - D.João O Primeiro e D. Filipa De Lencastre


  Na obra "A mensagem", Fernando Pessoa fala-nos do nosso país e muito mais. A organização dos poemas sugere as três etapas da vida - o nascimento, a vida e a morte.Os dois poemas de que falarei pertencem há primeira parte da obra, e sendo assim ao nascimento da nação.
  O sétimo poema esta dividido em duas partes, a primeira fala de D. João O primeiro e o segundo de sua esposa, D. Filipa de Lencastre.

"O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a historia é feita"

Nesta passagem dá a entender que o homem acha o seu destino, no entanto parece que Deus e que o comanda. Apesar de a última escolha ser do homem ele precisa de Deus para lhe mostrar o caminho.

"O mais e carne, cujo pó"

Só a alma e que tem significado, o corpo e tudo o resto nao interessa. A alma transcende tudo.

"A terra espreita" 

Parece-me que aqui há uma referencia há morte, há inevitabilidade dela.

"Mestre, sem o saber, do Templo"
D. João era um exemplo a seguir, alguém que tinha tanto honra como coragem.

"De o defender" 

de defender Portugal, lutou por ele, pelo seu nascimento.

"A que repele, eterna chama,
A sombra eterna"

Eterna chama porque estará sempre presente, sempre na nossa memoria sempre recordada pelos que cá ficam, pois a não esta  presa pela lei da morte, já se tornou imortal, e irá combater os perigos, as ameaças (sombra eterna) que existiram sempre.

Na segunda parte do sétimo poema é-nos descrita D. Filipa, mulher de D. João.

"Que enigma havia em teu seio 
Que só génios concebia"

Aqui há a referência à Ínclita geração, geração estaque se destacou pelo seu elevado grau de educação, valor militar, grande sabedoria e predominância pública portuguesa. Eram cinco homens e uma mulher (que chegaram há idade adulta). Cada um deles se destacou na história de Portugal, ajudando-o a nascer.

"Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia"

Aqui D. Filipa é comparada com a Virgem Maria que vou avisada por um arcanjo da vinda de seu filho Jesus. Tal como a Virgem Maria que teve Jesus e que foi avisada da chegada de tal ser tão importante e bondoso também D. Filipa deveria ter sido avisada da chegada de tais filhos, pois estes eram tão grandiosos que seriam comparados com Jesus.

"Humano ventre do império,
Madrinha de Portugal!"

Mais uma vez, a referência há importância, ao contributo tremendo de D. Filipa para com Portugal e a afirmação de que ela se tornou uma protectora de Portugal, devido aos filhos que criou que não deixaram Portugal ser esquecido e incentivaram a sua expansão. 

  De um modo mais geral, estes dois poemas referem o contributo de D. João e D. Filipa para o nascimento, a formação de Portugal.
  Se quisermos relacionar estes dois poemas com a obra "Os Lusíadas" de Luís de Camões temos as estrofes quatro e cinquenta, do canto IV, respectivamente.

Síntese apresentação(16-11)- D.Sebastião; Quinto império


TERCEIRA PARTE: O ENCOBERTO

- Fernando pessoa neta parte da obra não fala exatamente da morte mas sim da ressurreição, neste caso não é o corpo que renasce mas sim a alma dele.

1º POEMA- D.SEBASTIÃO

* nesta terceira parte D.Sebastião funciona como um símbolo e não como D.Sebastião Rei de Portugal. Este simboliza um novo Portugal.

Primeira estrofe :

*Sperai- referência à última citação de D.Sebastião. Este na hora de morrer na Batalha disse 'morrer sim, mas devagar'.

*A hora adversa é a hora da morte.

*Morte é vista como um momento transitório. Um intervalo e uma passagem da vida que conhecemos para outra aparentemente desconhecida.

Segunda estrofe:

*que importa o areal e a morte e a desventura”, para quem acredita na imortalidade a morte não tem significado nenhum.

*o que permanece de D.Sebastião é a essência dos seus atos e da sua coragem- “o que eu sonhei que eterno dura”

Conclusão:

*Fernando Pessoa procura claramente um movimento orientador do futuro de Portugal.

O mito de D.Sebastião e que move a história, pois as pessoas esperam por ele.

 

 

2ºPOEMA- QUINTO IMPÉRIO

- Depois de D.Sebastião, Fernando Pessoa considera o Quinto Império o símbolo mais importante.

-O quinto império foi primeiramente referido na Bíblia. O profeta relata um sonho de um Rei da Babilónia, onde este viu 4 impérios e um quito império imaterial, que deveria ser para sempre. Este império deveria oferecer ao mundo um modelo de vida repleto de harmonia, sem angústia e problemas económicos.

 

Primeira estrofe:

*Ironiza aqueles que estão satisfeitos com o que têm.

*Óbvio que é bom ter uma casa, no entanto o poeta defende que não nos podemos contentar só com isso.

 

Segunda estrofe:

*Fernando Pessoa crítica aqueles que apenas vivem para sobreviver, aqueles que não desejam.

*Tira portanto o mérito à felicidade comum e despreza a sobrevivência.

 

Terceira estrofe:

*Já passaram incontáveis eras e o homem continua a revelar-se por ser descontente.

*Mas um novo tempo é esperado, “As forças cegas”-poder das armas, guiado pela visão cega da ambição e que não vê para além da conquista momentânea- tem os dias contados. Porque a “visão que a alma tem” vai ser decisiva para acabar com a guerra.

 

Quarta estrofe:

*Faz referência aos 4 impérios.

*”Passados os 4 tempos… A terra será teatro/do dia claro”, ou seja, passados 4 impérios, a terra verá nascer um quinto.

 

Quinta estrofe:

*enumera mais criteriosamente os 4 impérios que acha que são passados.

*Lança um desafio “quem vem viver a verdade/Que morreu D.Sebastião?”. Fernando Pessoa tenta ao máximo que realmente apareça este quinto império que será grandioso q que será para sempre.

Relação Ilha dos Amores com a idade do ouro (já antigo)


  A ilha dos Amores situa-se no canto IX, após a partida de Calecute, local que era objetivo dos portugueses. Segundo o poeta, a Ilha será uma recompensa por todo o esforço da viagem. caracteriza-se por ser uma ilha constituída por ninfas que seduzem os navegadores e jogam uma esécie de "rato e gato" com esses. Uma ilha repleta de sensualidade e sem alguma maldade, somente prazer. Sem preocupações, só harmonia.
  A idade do ouro, antecedente à da prata , do bronze e do ferro, caracterizava-se como um paraíso, onde a Primavera era interna e onde , tal como na Ilha dos Amores, não existia maldade e guerra.
  Penso que a ideia de Paraíso está presente em ambas e é isso que relaciona estes dois tópicos, no entanto em contextos diferentes. Apesar de na Ilha dos Amores não haver conflitos, há sedução que é algo que na idade de ouro não existia.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Síntese dos poemas Oriente e Fernão de Magalhães

Os poemas “Ocidente” e “ Fernão de Magalhães” integram-se na segunda parte da Mensagem intitulada “Mar Português”. Nesta segunda parte, os poemas são inspirados na ânsia do desconhecido e no esforço heroico da luta contra o mar.
Ocidente
Três quadras e rima cruzada.
Refere-se às navegações para Ocidente e em particular à descoberta do Brasil (1500), por Pedro Álvares Cabras.
1ª Estrofe
Fernando Pessoa utiliza aqui uma metáfora humana, que são as duas mãos. Estas mãos são interdependentes apesar de cada uma simbolizar dimensões distintas e funções particulares e diferentes. Temos a mão que representa – O Destino. Esta, “ergue o fecho trémulo e divino”. É Deus que comanda esta mão e que por isso ilumina o Homem e o guia dando-lhe um destino pelo qual ele se deve entregar e lutar para o conseguir concretizar. Temos aqui representada uma dimensão superior e não terrena mas que interfere na consciência dos Homens que se sentem guiados e inspirados por esta mão. Temos também, e não menos importante, a mão do – Acto. Esta “afasta o véu”. O véu representa o que separa o querer de Deus e a ignorância do Homem. Esta mão já se refere a algo mais palpável ou seja, a uma dimensão terrena. Nesta dimensão temos a perceção do Homem do divino e a ação em função dele. O Homem é iluminado e aceita o que lhe foi destinado, demonstrando-o através do ato. É o conjunto e a ação das duas mãos que permitem a descoberta, daí elas estarem interdependentes.
2ºa Estrofe
Esta estrofe fala da mão do Acto. Diz-nos que fosse em que altura fosse, ou seja, independentemente das circunstâncias, esta mão tinha duas componentes que a tornavam firme. Estas componentes são: a Ciência (alma) que se refere aos conhecimentos náuticos (marés, ventos, direções, a nível das embarcações etc.) que permitiram uma navegação mais inteligente e mais segura dentro dos possíveis e a Ousadia (corpo) que se refere ao instrumento que na prática efetua a ação em si. A ousadia refere-se por isso à entrega física dos marinheiros que têm de superar muitas dificuldades e agir com coragem e espirito de entrega. “O Acto” tendo as duas componentes, a Ciência e Ousadia leva à concretização e ao desvendar do véu como anteriormente já referi.
3ª Estrofe
No primeiro verso “Fosse acaso, ou Vontade, ou Temporal” o Imperativo do Conjuntivo “Fosse” exprime uma controvérsia quanto à chegada dos Portugueses ao Brasil. Não se sabe se a chegada ao Brasil foi por acaso, planeada ou por causa de um temporal que desviou a rota de Álvares Cabral das Áfricas para a América. De qualquer maneira, havia um Destino para os portugueses. Destino esse em que Deus é a alma e Portugal o corpo. A mão do Destino é Deus que a comanda, ele que é força divina e que conduz os Homens e estes, por sua vez, são o corpo ou melhor dizendo, são o instrumento divino. Os marinheiros, completos em alma e corpo conseguiram enfrentar um destino a eles confiado e foram conduzidos por Deus e assim, desvendaram novos mundos.

Fernão de Magalhães
4 sextilhas e rima emparelhada e cruzada (aabcbc)
Este Homem serviu muitos anos a coroa portuguesa no ultramar. Descontente por não ter obtido de D.Manuel I uma recompensa a que se julgava com direito, foi oferecer os seus serviços a Carlos V (rei de Espanha) que lhe confiou uma frota. Magalhães planeou e comandou a primeira viagem de circum-navegação ao globo (1519). Foi o primeiro Homem a dobrar o estreito no sul da América que ficou conhecido como estreito de Magalhães. Foi também o primeiro a cruzar o Oceano Pacífico, que nomeou. Nessa mesma viagem, Fernão de Magalhães, foi assassinado nas Ilhas Molucas, nas Filipinas pelos nativos.
Pessoa fala de Fernão de Magalhães não como herói dos Descobrimentos Portugueses porque na realidade ele estava ao serviço da coroa espanhola. O autor neste poema fala apenas da dos feitos dele ou seja, da viagem em si.
1ª Estrofe
Aqui é-nos apresentado o ambiente do poema, fazendo-nos imaginar uma cena. Percebe-se que se trata de uma comemoração estranha feita às escuras, por seres estranhos.
2ª Estrofe
As sombras que dançam são os Titãs (gigantes) filhos da Terra. A morte do marinheiro é por isso motivo de celebração porque Magalhães era uma ameaça uma vez que era o chefe que comandava aquela volta à terra.
3ª Estrofe
Os Titãs demasiado cedo se julgam vencedores. Pessoa revela-nos um Magalhães ainda vivo mesmo em memória. Depois da sua morte (1521,) a armada prosseguiu até ao fim da viagem. Magalhães reencarna em força, numa alma sem corpo que comanda a armada em espírito. Mesmo ausente, a viagem era a sua vontade e o objetivo foi atingido também por sua ação indireta. Fernão de Magalhães cumpriu aquela viagem, não só com o corpo mas também com a alma. Foi por isso a sua vitória: ”até ausente soube cercar a Terra inteira com seu abraço”.
 4ª Estrofe
A palavra violar é usada no sentido de “tornar humano o que antes era divino”. Com a utilização deste termo, é-nos apresentado um contraste e um lado mais obscuro em relação ao que nos foi antes apresentado na terceira estrofe. Aqui, Magalhães toma o papel de violador da terra ou seja, Homem que transgrediu, infringiu, profanou, invadiu e quis tornar seu o que não lhe pertencia.  A Terra é imensamente grandiosa e é algo que ninguém pode conquistar, ela é a mãe de tudo, ela é a mãe do Homem que nela habita e nunca o homem poderá tomar uma posição superor à da terra.
Os Titãs estão concentrados nas suas danças e não sabem da conclusão da viagem.
Fernando Pessoa emprega um tom triste, quer nas danças dos titãs quer na esquisita vitória de Magalhães. Dizendo que ele é “violador da terra” não um descobridor ou um herói, como se as suas mãos e espírito fossem impuros  talvez porque sinta neles a traição. Não o chama desleal ou qualquer outro nome ofensivo, mas torna a sua glória menos intensa e luminosa.
 Mafalda Caldeira

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Síntese da Apresentação dos poemas: “ O Infante” e “Horizonte”



A obra “A Mensagem” de Fernando Pessoa pode ser considerada como uma evolução entre a origem, fase adulta, morte e ressurreição do próprio império.
Estes dois poemas pertencem à segunda parte; Mar Português, o que corresponde a realização e concretização do sonho.
Nos vários poemas encontramos uma interacção entre a espiritualidade de Deus, do Homem e do próprio universo.
Fernando Pessoa descreve um país perdido que precisa de fé, após o desaparecimento de D. Sebastião, precisava de voltar as glórias do passado!
Pessoa recupera ainda o conceito de quinto império, através do intenso sofrimento da nação que faz antever a necessidade deste mesmo império imaterial.
Este conceito também se encontra presente na Bíblia, através do sonho do rei da Babilónia, este rei sonha com uma estátua com a cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e ancas de bronze, pernas de ferro e pés de barro, interpretado por uma figura bíblica como sendo o nascimento e as quedas do império que acontecem pela vontade de Deus.
Relacionei este conceito com as metamorfoses de Ovídio, e com a degradação que vai acontecendo ao longo dos tempos.
Tanto Camões como Pessoa retratam a essência de ser português, o sonho, a esperança e a realização de grandes feitos.
Estes dois poemas, são os dois primeiros do Mar Português, mar símbolo de vida, morte e mistério.
O primeiro poema é intitulado “O Infante”, este infante é D. Henrique, filho de D. João e D. Filipa de Lencastre, faz parte da ínclita geração, é o impulsionador dos descobrimentos, símbolo de vontade e esforço, o tratamento é feito na segunda pessoa, o que demonstra alguma proximidade e cumplicidade.
O primeiro poema inicia-se com o seguinte verso: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, desde o início é apresentado o encadeamento em que a obra é resultado do desejo divino e do sonho humano. Este verso encontra-se no presente o que demonstra o caracter intemporal e o domínio que irá ter ao longo dos poemas.
A estrofe descreve também a vontade de Deus na unificação dos povos.
O último verso “Sagrou-te, e foste desvendando a espuma” o nascimento do império, através da descoberta dos mistérios, de forma gradual, algo que relacionei com o véu que cobria a figura feminina nos “Lusíadas” e o mistério envolvente o que desperta ainda mais vontade de conquista, mas tudo tem o seu tempo certo.
Este verso mostra também o exemplo do poder divino, uma vez que o Homem põe em prática a vontade de Deus, neste caso o infante D. Henrique, um herói em busca da imortalidade, tal como acontece na epopeia de Camões, há uma realização terrestre de uma missão transcendente.
A segunda estrofe descreve o crescimento do império e a revelação através de palavras como “Clareou” e ”Surgir”. Encontra-se no tempo passado, é a descrição de acontecimentos passados.
Deus quer, o homem sonha e aqui há a concretização da expansão e descoberta do mundo e do outro.
Mostra também a grandeza das descobertas portuguesas (“até ao fim do mundo”), uma vez que Deus consagrou os homens às conquistas.
Na última estrofe do poema é nos apresentada mais uma vez a missão de conquista, e a morte do próprio império, o que demostra a necessidade do tal quinto império espiritual e eterno.
A palavra mar, aparece ainda com letra maiúscula o que confere a este elemento um papel decisivo ao longo de toda a acção.
O último verso começa com o vocativo “Senhor”, o que mostra mais uma vez a vontade de Deus como indispensável, “falta cumprir-se Portugal”, um novo sonho, um Portugal como língua, cultura espirito e alma, um país com um destino glorioso de alma, imaterial!
Para terminar a análise deste primeiro poema cito Agostinho da Silva em “Um Fernando Pessoa”: “conta agora a história em “Mar Português” mas avisa desde logo no poema “Infante” que essa história não é a história de Portugal, mas o seu interrompido prólogo”.
Afirmação com a qual concordo, Pessoa vê a história de Portugal como algo mais glorioso, as descobertas do passado, ou o futuro baseado no quinto império.
O segundo poeta, reflecte sobre os medos e sofrimentos e o que é necessário para os ultrapassar, descreve também o encantamento dos navegadores na sua gradual aproximação, aquilo que tanto ambicionam, no fundo a descoberta do mistério.
Existe a passagem do abstracto para aquilo que agora passa a ser concreto!
A primeira estrofe do poema mostra em contraponto um mar desconhecido (medos, noite, cerração, tormentas) e o mar conhecido (coral, praias, arvoredos, desvendadas, abria, splendia).
Temos ainda a presença da palavra cerração, que simboliza o nevoeiro, que podemos associar ao mito sebastianista, mas também ao desconhecimento, ao contrário do que sugere a palavra sidério, associada à luminosidade e à descoberta.
As naus da iniciação representam ainda as frágeis naus dos portugueses, que movidas pela esperança desbravavam novos caminhos.
A segunda estrofe descreve as aproximações sucessivas dos marinheiros, com a descoberta de pormenores.
Podemos analisar a passagem do horizonte para a realização do desejo da descoberta, há a descrição das aves e das flores.
A estrofe termina referenciando a abstrata linha, que simboliza o sonho, como mito; “o mito que é nada e que é tudo”, como é descrito no poema “Ulisses”, mito como sendo algo eterno, desde que seja definido uma abstrata linha (ambição).
A última estrofe começa com o seguinte verso: “ O sonho é ver as formas invisíveis”.
Este sonho é o novo mundo, a luminosidade descoberta.
O verso encontra-se no presente o que mostra mais uma vez o caracter intemporal, encontramos também uma antítese entre ver o invisível, o que nos mostra a necessidade de ver mais além, depois do horizonte.
Posteriormente acontece a caracterização do sonho, movido pela vontade e esperança.
No penúltimo verso encontramos palavras muito ricas simbolicamente:
Árvore: renovação, evolução da vida, ascensão para o céu, uma outra dimensão.
Comunicação entre três realidades, subterrânea (nosso interior), superfície da Terra (nosso exterior, céu (espiritualidade).
Praia: liberdade, horizontes mais amplos.
Flor: amor, harmonia. O seu cálice é um receptáculo da atividade celeste, tal como no poema “Infante”, a vontade de Deus é imprescindível.
Ave: mundo divino, relação entre o céu e a terra, elevação espiritual.
Fonte: origem da vida e neste caso da imortalidade.
O poema termina com “Os beijos merecidos da verdade”, a recompensa que segundo Pessoa os portugueses são dignos de receber.
O sonho é nos apresentado como a capacidade de ver o invisível, e assim alcançar a verdade, o prémio pelo esforço tal como observamos nos “Lusíadas”.
O sonho é então o motor dos descobrimentos, movido pela esperança e pela vontade, até atingir o quinto império.
Existe aqui um paralelismo com a epopeia de Camões, no Canto IX, a “Ilha dos Amores”, mas Camões recompensa através dos sentidos e Pessoa através da verdade.
A verdade do conhecimento, o verdadeiro quinto império!
Para concluir, nestes dois poemas Fernando Pessoa, retrata a figura do infante que consegue concretizar as vontades de Deus.
Um homem capaz de pôr em prática o sonho, com vontade e esperanças, características inerentes a um conquistador.
Consegue ver mais além, a cabeça de ouro e a primeira idade de Ovídio, no fundo procura a paz e a espiritualidade – o Quinto Império, que se relaciona com os valores de cada um e com a vontade intrínseca no ideal do sujeito poético, a elevação espiritual de cada um, ultrapassando o horizonte indo mais além do que aquilo que está aparentemente ao nosso alcance.
Procurar o que é desconhecido, não só novas terras, mas principalmente aquilo que nos realiza e nos torna melhores pessoas, uma expansão da mente!
Uma descoberta individual que acaba por influenciar uma nação!

Mafalda B.C.

domingo, 18 de novembro de 2012

O Grifo - Apresentação Oral



Introdução

A Cabeça do Grifo, Uma Asa do Grifo e A Outra Asa do Grifo são os três últimos poemas da primeira parte da obra A Mensagem, intitulada Brasão. O Brasão reflecte a origem e a fundação da nação, a essência de ser fidalgo de Portugal. Cada um dos seus elementos simboliza outra realidade, no entanto, todos têm algo em comum, o esforço por Portugal, quer seguindo o seu caminho natural, quer contrariando-o, sacrificando-se.
Estes três poemas constituem a quinta parte de o Brasão, o Timbre, que representa o símbolo do poder legítimo como marca pessoal e possui como símbolo central o grifo.
O grifo é um animal mítico com bico e asas de águia e corpo de leão. O seu corpo de leão representa a ligação à Terra e os traços de águia remetem para o céu, para o poder da procura da ascensão. Esta procura do transcendente pode ser comparada ao episódio do Velho do Restelo dos Lusíadas, no qual os portugueses eram definidos como um povo que mantinha a cabeça voltada para cima, com a esperança de ir mais além. O grifo simboliza então a união de duas Naturezas, a humana e a divina, o que remete para a própria natureza de Deus, uma união da terreno com o céu, união essa que caracteriza a condição de herói.



A Cabeça do Grifo
O Infante D. Henrique

            A cabeça do grifo detém a visão de águia, precisa à distância e é na obra a Mensagem metaforicamente o Infante D. Henrique como símbolo da sabedoria. A sabedoria que permite a criação do sonho, sendo que o sonho é o que dá vida ao homem, senão este limita-se à mediocridade.
D. João II, filho de D. João I e D.ª Filipa de Lencastre é um dos eleitos da ínclita geração, isto é, da geração nobre e dourada dotada de um grande conhecimento. Com esta sua sabedoria que leva à idealização concebeu e impulsionou os descobrimentos, não como navegador, apenas como ideólogo, daí ser nesta obra metaforicamente a cabeça do símbolo mítico.
O infante assume então uma atitude estática e imperial, característica do poder (“Em seu trono”). É caracterizado como um homem que olha para o infinito, para o horizonte em busca de mais e mais conhecimento (“entre o brilho das esferas”), que procura o desconhecido (“com seu manto de noite”) e tem como meio para esse objectivo a solidão, solidão essa que propicia a idealização de todo um sonho para uma futura realização de grandes feitos (“com seu manto de solidão”). Senhor do mar e do mundo inteiro (“Tem aos pés”), conhece as notas rotas descobertas (“o mar novo”) e experienciou um passado de ignorância e temor do desconhecido (“e as mortas eras”). “É o único imperador que tem deveras; O globo mundo em sua mão” pois é o único capaz de idealizar tão grandiosidade por ser o maior possuidor do conhecimento.


As Asas do Grifo
As asas do grifo, D João II e Afonso de Albuquerque, remetem para a conquista de um estado além-humano, isto é, da união da dimensão espiritual ao conhecimento que já o Infante possuía.
Deste modo, fazem levantar do chão a visão do Infante com uma conjugação da dissociação do terreno e da união de duas emanações divinas, a força e a inteligência.
Mais uma vez é estabelecida uma relação com os Lusíadas, na medida em que as asas remetem para o poder de ascensão, de sair do lógico e concreto para olhar para cima, uma característica atribuída ao povo português na obra referida.


Uma Asa do Grifo
D. João, O Segundo

D. João, o segundo, representa a asa que impulsiona os descobrimentos, a que prepara a execução do sonho idealizado.
Assim, a presença desta figura na obra A Mensagem de Fernando Pessoa pode assumir a ideia de que o impulso é dado sem força, mas com vontade, isto é, sem serenidade, mas com determinação (“Braços cruzados). D. João é o contemplativo visionário que aceita o desafio (“fita”) de ir além do já conquistado (“além do mar”), o sonhador que procura o horizonte e a expansão do limite (“O limite da Terra a dominar; O mar que possa haver além da Terra”).
Na segunda estrofe é reforçada a ideia de solidão como propiciadora da idealização e realização de grandes feitos, algo que apaga a individualidade em favor de Portugal (“seu formidável vulto solitário”).
Se o Infante era o senhor dos mares, D. João era denominado como o futuro rei dos mares, aquele que iria pôr gente nova em novos mares sob novos céus (“Enche de estar presente o mar e o céu”), mas que iriam temer (“parece temer o mundo vário”). Apesar do temor, ele ansiava a quebra dos segredos do mar e da vontade do mundo, o desvendar dos mistérios (“Que ele abra os braços e lhe rasgue o céu”).


A Outra Asa do Grifo
Afonso de Albuquerque
           
Fernando Pessoa caracteriza a outra asa do grifo como a que ergue a visão do infante, após uma preparação para a acção de D. João II, como a que age e concretiza todo os sonho.   
Define então a figura de Afonso de Albuquerque como um herói pelas armas (“De pé sobre os países conquistados”), no entanto, despe-lhe a pele de herói e guerreiro para desvendá-lo como homem, desvendando-o então como alguém cansado (“Desde os olhos cansados”) da injustiça e do destino (“a sorte”) que o mundo lhe reserva, o esquecimento. O esquecimento era já nos Lusíadas revelado como o destino dos Portugueses, mesmo apesar da realização de grandes feitos.
Este, caracterizado como um homem austero, revelava uma opção clara pelo poder espiritual, moral e dos valores. Apresentava deste modo uma fidelidade total ao rei, não desejando mais quando poderia fazê-lo (“Tão poderoso que não quer o quanto Pode”), pois o sucesso pesava mais sobre os ombros do que a conquista dos povos, visto que tinha trazido a inveja na corte (“que o querer tanto calcara mais do que o submisso mundo; sob seu passo fundo”). 
Com suas bases de poder de acção, criou três impérios, que para Fernando Pessoa são domínios, o material, o intelectual e o espiritual, no entanto, criou-os seguindo o seu destino (“Três impérios do chão lhe a sorte apanha”) de cumprir Portugal (“Criou-os como quem desdenha”).
Afonso de Albuquerque, apesar de criador dos três impérios, definia o poder executado com bases de justiça, lealdade, coragem e respeito mais valioso que o poder executado violentamente, assumindo assim a atitude um verdadeiro herói, indiferente ao poder. Esta definição de herói também nos Lusíadas nos era apresentada, como a merecedora de recompensa.    


Conclusão

 Agostinho da Silva escreveu: “o grifo com a sua cabeça de águia adivinhando o mundo como um perfeito globo, ou melhor, obrigando o mundo a ser o globo que pensava; com uma de suas asas rasgando o firmamento num sulco de vontade, e com a outra rasgando num sulco de poder.”
A visão do infante é aqui mencionada por Agostinho da Silva como o que adivinha o mundo, o que obriga o mundo a ir de encontra à sua ideologia. O sulco de vontade é característico do poder da vontade de D. João o segundo e o sulco de poder o que define o poder da força de Afonso de Albuquerque.
Assim, o império funda-se com visão, vontade e força.  

Catarina Torrinha

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

D. Sebastião Rei de Portugal e Nuno Álvares Pereira


D. Sebastião

- A presença de uma figura mítica e louca como a de D. Sebastião na obra Mensagem de Fernando Pessoa pode assumir a forma de resistência, estimulo e superação de uma época de desânimo e desespero em que a Nação se encontrava. A loucura pode ser compreendida como uma voz inaudita de resistência às regras opressivas que dominavam a sociedade, sendo a loucura de D. Sebastião encarada como que um sopro de esperança.

- Ao dizer “ficou meu ser que houve, não o que há”, afirma que o que morreu e permaneceu no areal (campo da Batalha de Alcácer-Quibir) foi o seu corpo e não a sua alma que ainda se encontrava viva. No último verso “cadáver adiado que porcaria” significa que apesar de ainda estar vivo de forma espiritual ele estaria sempre inexoravelmente destinado à morte.
D. Sebastião sonhou-se imperador do Quinto Império e esse seu sonho resistiu à sua morte.

- Dizia Fernando Pessoa que “Império é domínio e pode ser domínio material, domínio intelectual e domínio espiritual…” Após a Batalha de Alcácer-Quibir muitos autores se debruçaram sobre o assunto do Quinto Império mas entre todos eles, Fernando Pessoa foi aquele que melhor o conseguiu entender.


Como Fernando Pessoa caracterizava o 5º Império:

“… o futuro de sermos tudo, fundindo portuguesmente todas as religiões no Paganismo Superior. Não queiramos que fora de nós fique um único Deus! Absorvamos todos os Deuses! Conquistámos já o Mar, resta que conquistemos o Céu, ficando a terra para os Outros, os eternamente Outros, os Outros de nascença, os europeus que não são europeus porque não são portugueses. Ser tudo de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa…”


- Mas o que é este Céu? O Céu representa o limite, a barreira que o povo português teria que ultrapassar para se conseguir erguer de novo. Representa a ideia de nos superarmos a nós mesmos, de pensarmos e olharmos cada vez mais além. Pessoa afirma que aquilo que os portugueses realmente precisavam era de uma renovação de ideais nas suas mentalidades para poderem evoluir. Teriam que recuperar o espírito aventureiro e ousado que em tempo já possuíram.


- Quinto Império será pois a face mais visível de uma nova “religião”, de uma nova ordem de ideias, de um recomeço que o poeta propunha para o país. No fundo o Quinto Império e a figura de D. Sebastião não são mais do que uma procura de algo mais seguro e duradouro para o povo. Se tomarmos atenção podemo-nos aperceber de que Pessoa se projecta sempre no futuro pois aquilo que é profere nos seus poemas é o futuro que ele anseia para Portugal. Um Império desta forma só faria sentido para Fernando Pessoa numa dimensão espiritual. Todo este nacionalismo mítico pretendia renovar a mentalidade de um país que o poeta via a decair cada vez mais.

- Ao fim e ao cabo o que o poeta tentou fazer foi conferir a Portugal um novo sentido de existência. O poeta indica que o país tinha capacidades para se regenerar e se entregar a um novo tipo de ideal, mas para tal teria que procurar bem fundo nas suas raízes os mitos (eternos e que ajudaram na construção da História de Portugal) ancestrais que conferiam a Portugal toda a sua essência, tal como F.P. foi buscar o mito de D. Sebastião.

- Embora D. Sebastião tenha falhado no seu empreendimento, foi em frente, teve coragem e morreu em grandeza, numa batalha por Portugal e é essa a ideia que deve permanecer dele na mente dos portugueses após a sua morte.

Nos “Lusíadas” vemos referências a D. Sebastião tanto no início como da obra, na proposição pois esta foi dedica ao Rei D. Sebastião e no final, no canto X há de novo uma referencia mas de descontentamento…



Nuno Álvares Pereira

- Tal como Fernando Pessoa, muito outros autores, entre eles Camões, se lembraram de Nuno Álvares Pereira, o Condestável, como um homem valente e fiel à Pátria e ao mesmo tempo um homem de fé. O poeta ao dizer “S. Portugal em ser” está a fazer uma figuração daquilo que há de mais puro e mítico em Portugal. E a expressão “Ergue a luz da tua espada para a estrada se ver!” está a apelar à inspiração de N.A.P para que os portugueses conseguissem encontrar de novo o caminho para a grandeza, um vez que se tinham perdido.

- No poema é referida uma auréola que toma dois significados: o de santidade (guerreiro que se tornou monge) e o de combate. Com isto quer ele dizer que a santidade que N.A.P alcançou foi a custo dos seus actos de bravura e guerreiro pois é a sua espada que desenha o círculo acima da sua cabeça., destacando-o assim dos outros homens como Santo.
Pessoa afirma que a espada não é uma qualquer, não era uma espada de guerreiro comum. Estabeleceu então uma analogia entre a espada de N.A.P e a espada Excalibur do Rei Artur.
No final do poema é pedido a N.A.P que erga a sua espada para que os portugueses encontrem o caminho que deviam seguir no futuro.

- F. Pessoa inicio este poema com uma pergunta retórica acerca de N.A.P. e os restantes versos são as respostas a essa mesma pergunta. Pessoa chega mesmo a dizer que o valor de N.A.P é maior do que o do Rei Artur visto que o primeiro passou de realidade a mito e o segundo não passava apenas de um mito que muitos afirmavam ter sido realidade. Tal como o Rei Artur estava pré-destinado a erguer a sua espada Excalibur, Nuno estava também destinado a erguer a sua espada que o guiou na Batalha.

- Os últimos versos do poema podem ser interpretados como um conselho aos portugueses. Se quisessem alcançar glória e reconhecimento deveriam seguir o exemplo de N.A.P.
No final há um apelo para que ele indique o caminho a seguir para o Império que há-de vir (Quinto Império que já referi)

- Tudo isto se pode relacionar com os Lusíadas e a citação que nele aparece “numa mão a lança e noutra a pena” ou seja, por um lado N.A.P era um guerreiro forte, corajoso e destemido na área de combate mas por outro lado era também conhecedor de arte e inteligente. O que isto nos dá a entender é que para conseguirmos alcançar o patamar de merecimento de reconhecimento e valo tal como N.A.P há que haver um equilíbrio interno entre a sensibilidade e a força.

 


Excalibur


O filme faz uma recreação do mito. Segundo este, Excalibur estava à guardiã da Dama do Lago e trespassada num rochedo, apenas o Eleito seria capaz de a arrancar de lá.

Arthur que era filho ilegítimo de Uther foi o Eleito, tornando-se assim Rei da Grã-Bretanha, pois o seu destino era trazer paz e fim a longos anos de guerra.

No filme, para além da se falar da espada Excalibur fala-se também do Segredo do Santo Graal que era: o homem consciente da sua Natureza, do seu lugar no Mundo e da sua sabedoria.

Na procura do Santo Graal morreram todos os guerreiros menos Percival pois foi ele que conseguiu exercer o segredo do Graal. Foi também Percival que no final do filme lança a espada de novo ao Lago, a mando de Arthur.

No filme existe também uma dimensão de Romance. O triângulo amoroso entre Uther, Guineverre e Lancelot é um ponto importante a ter em conta ao longo do filme, sendo também importantes os encontros amorosos entre eles.

Ao longo de todas estas cenas que descrevi há um acompanhamento musical de fundo, da banda sonora de Wagner. A parte musical ajuda a complementar a para de imagem.

À medida que a emoção transmitida pelas imagens vai aumento, há uma intensificação da parte musical, fazendo com que os espectadores se envolvam completamente na acção.

A música assume a sua expressão máxima no final, quando Percival atira a Espada ao lago. Com este retorno de Excalibur ao lago há como que um feixe num ciclo que pertencia ao reinado do Rei Arthur. Este antes de morrer devolve Excalibur à Dama do Lago, tal como se encontrava inicialmente. Arthur viaja até à Ilha da Eternidade ao som da música “Marcha Fúnebre de Siegreid” de Wagner, num bonito pôr-do-sol acompanhado de três damas vestidas de branco sendo as últimas palavras que profere: “Um dia chegará um Rei e a Espada ressurgirá das águas”.

Diz-se por isso que a lenda de Excalibur foi a lenda fundadora de Inglaterra, conferindo assim aos seus Reis poderes para que conseguissem governar devidamente o seu país.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

D. Pedro e D. João


Os poemas que vou a seguir apresentar estão contidos na 1ª parte da obra Mensagem de Fernando Pessoa, intitulada "Brasão", mais concretamente no seu 3º momento - as Quinas. Estas simbolizam as cinco chagas de Cristo, sendo representadas por cinco figuras de elevado estatuto da história do nosso país (quatro irmãos da Ínclita geração* e um parente distante, todos da Dinastia de Avis ) que morreram por uma missão que os ultrapassava.


D. Pedro, Regente de Portugal

Claro em pensar, e claro no sentir,
E claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser-

Não me podia a sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!


D. Pedro era o filho preferido do rei, pelo que teve a oportunidade de receber uma educação excepcional para a época em que vivia. Isto transformou-o num amante da cultura, e levou-o a querer trazer mudanças para a pátria através das letras, formando uma ideia de Império Espiritual (o tal Quinto Império).
Nos dois primeiros versos do poema, Fernando Pessoa, que fala através de D. Pedro, dá-nos a conhecer as características que mais destacavam esta figura: a sua paixão pela cultura, a sua grande honestidade, e o facto de ser uma pessoa extremamente ambiciosa e decidida, que sabe o que quer e vai obtê-lo, independentemente do que possa ter a ganhar. Isto porque D. Pedro, ao planear o futuro da pátria, não pensava no que era melhor para si, mas sim o que era melhor para aqueles que estavam sob as suas ordens.
Mas, apesar de não ser ganancioso, a sorte escolhia não o proteger, pois não o considerava um dos seus. No entanto, ele não se importava com isso. Assim sabia que tudo o que conseguiu alcançar foi fruto do seu trabalho árduo e da sua vontade, e não mera sorte.
Era um homem honrado, de convicções fortes, sabia o rumo a tomar, e lutou pelas suas crenças até à morte, mantendo-se sempre fiel a si mesmo. Por isso mesmo morreu em paz, sabendo que nunca se desviou do destino que Deus lhe ofereceu, e tudo o que lhe aconteceu de mal foi por Sua vontade, podendo então ser lembrado para sempre como uma lenda ou mito.


D. João, Infante de Portugal

Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita - 
O todo, ou o seu nada.


D. João, para além do seu título de Infante, era também Condestável - 2ª figura militar mais importante no reino a seguir ao rei. Contudo, nunca chegou a ser rei, nem mesmo regente como o seu irmão D. Pedro, ou seja, não foi alguém a quem pudessem ser confiadas certas responsabilidades, pois estava rodeado de pessoas (a sua família) que podiam detê-las com melhores resultados. Apesar de saber ter em si as capacidades necessárias para trazer mudanças positivas à pátria, não conseguia aplicar esta potencialidade, outros mais capazes já o faziam por ele, pelo que se sentia inútil e inferior.
Assim, o seu destino parecia toldar-se perante o caminho destas grandes figuras históricas. Enquanto estas conquistaram "o inteiro mar", "o todo", a ele sobrou apenas "a orla vã desfeita", "o seu nada". D. João sofria,  então, devido ao facto de pensar que o seu destino de grandezas nunca seria cumprido. Porém, ele apenas olhava para os dois extremos, sem colocar a hipótese de talvez o seu destino ser algo que, apesar de não ser tudo o que ele ambicionava, também não ser insignificante. Talvez o seu destino fosse tão importante como o dos seus irmãos, pois enquanto o destes era a conquista e a glória imortal, o dele era deixar transparecer o rumo grandioso dos seus pares. 
Um povo é construído por homens que se destacam e por homens que se anulam para que outros possam brilhar - e todos têm o seu lugar no mundo.





* Ínclita geração = filhos de D. João I e D. Filipa de Lencastre. Foram pessoas fundamentais no estabelecimento de uma dada ordem para a pátria.

D. Tareja

D. TAREJA

As nações todas são mysterios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avós de imperios,
Vella por nós!

Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por elle resa!

Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instincto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.

Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria! 
 O poema D. Tareja, enquadra-se na primeira parte da Mensagem,o brasão.

D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, simboliza o nascimento da pátria, podendo mesmo ser identificada como a Mãe de Portugal, fonte de protecção à qual se pede auxílio nos momentos difíceis, por isso os apelos em tom de oração: “Vella por nós!”, “ Por elle resa! “ .
Em todas as quatro quadras deste poema encontramos expressões relativas a essa condição de mãe: “Ó mãe de reis...”,“Teu seio augusto amamentou”,“O homem que foi teu menino envelheceu”,“No antigo seio, vigilante, de novo o cria”.
A dimensão mítica desta progenitora justifica o pedido de vigilância a uma descendência “ todo o vivo é eterno infante” que se deseja também criada por ela. A última estrofe introduzida pela conjunção coordenativa adversativa“Mas” marca uma projecção para o tempo presente ( ver tempos verbais) em que devemos manter a esperança de ver Portugal renascer do antigo seio, pois onde está “ já não há o dia”.

Sílvia Amaral 12ºB

O CONDE D. HENRIQUE

Para uma análise completa, convém localizar o poema que me proponho a tratar: O Conde D. Henrique é o 3º texto do conjunto II Os Castellos, da 1ª parte da Mensagem denominada Brasão.
Passo então à análise concreta do poema. Conde D. Henrique, contribuiu para a fundação de Portugal, para a criação da nossa nacionalidade, foi o fundador do Condado Portucalense.
Apesar de o poema possuir este título, pouco está ele relacionado directamente com a personagem. O texto ultrapassa mesmo a figura de Conde D. Henrique através de afirmações altamente simbólicas.

Na 1ª estrofe, o herói (Conde D. Henrique) actua como agente de Deus, comandado por uma força que o transcende, uma força que o faz agir inconscientemente.
Dá-se portanto início a um percurso espiritual. O que este percurso pretende atingir, é a ideia de que mais importante do que a terra (matéria), é o espírito, os valores sobre os quais ele (herói) vai criar as suas raízes.
Podemos de certa forma, através deste conceito de herói inconsciente, fazer a seguinte questão de teor filosófico: até que ponto é que o Homem é autónomo?
Resumidamente, nesta 1ª estrofe o herói imóvel assiste ao desenrolar involuntário de alguma acção.

A espada, símbolo de guerra, de morte. Será esta a mensagem que Pessoa quererá fazer passar? Não, aqui a espada funciona paradoxalmente. Não é de guerra verdadeira que fala o poeta, é de guerra à ignorância. Poderá ainda ser interpretada como símbolo fálico, pela sua forma longa e comprida, simbolizando a fecundação dos campos, a criação de vida.
Ora, nesta 2ª estrofe o herói desce o olhar na espada e faz aquela interrogação retórica «Que farei eu com esta espada?»
Pessoa conclui então o poema com a finalização do acto, a concretização de algo por parte do herói, o nascimento de Portugal

Sílvia Amaral 12ºB

terça-feira, 6 de novembro de 2012

D. Afonso Henriques e D. Dinis- Apresentação Oral


A mensagem, de Fernando Pessoa está dividida em três partes: o Brasão, o Mar Português e o Encoberto.

O quinto poema, D. Afonso Henriques e o sexto poema, D. Dinis, fazem parte da primeira parte da Mensagem, o Brasão, ou em latim, Bellum sine bello que significa "Guerra sem armas".

Representa um ideal de conquista espiritual e humano, não só a nível religioso como também cultural que tem importância no que ocorreu no passado e que influência terá no futuro. Simboliza o passado, o que é eterno que normalmente é descrito como a nobreza espiritual do herói português.

O primeiro poema que eu vou apresentar é o de D. Afonso Henriques.

QUINTO / D. AFONSO HENRIQUES

 

Pai, foste cavaleiro.

Hoje a vigília é nossa.

Dá-nos o exemplo inteiro

E a tua inteira força!

 

Dá, contra a hora em que, errada,

Novos infiéis vençam,

A bênção como espada,

A espada como benção!

 

D. Afonso Henriques foi o primeiro Rei de Portugal cognominado O Conquistador, não só pela fundação do reino de Portugal, como também pelas suas inúmeras conquistas.

Penso que esta estrofe da Mensagem relaciona-se com o episódio da Batalha de Ourique, dos Lusíadas. A batalha de Ourique foi a prova da existência de um Portugal independente por vontade divina que tornou-se assim eterno.

O objetivo de D. Afonso Henriques não era só o de reconquistar a península Ibérica. Queria também impulsionar a fé cristã e neste episódio da Batalha de Ourique, embora os números dos inimigos, dos “infiéis” como são descritos na Mensagem” fossem superiores, Deus ajudou o povo português a concretizar esse sonho.

Neste poema, o “Eu”, o povo português roga ao seu salvador, ao primeiro Rei de Portugal que ele seja tomado como o exemplo a seguir, que lhes dê a força e a bênção que recebeu de Deus e da sua vontade divina para enfrentarem os mouros. Tal como os mouros foram o obstáculo de D. Afonso Henriques na expansão territorial e na expansão da fé cristã, também para os portugueses, ”os novos infiéis”, serão uma atualização desse mesmo obstáculo.

O segundo poema que irei apresentar é o de D. Dinis.

SEXTO / D. DINIS

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo

O plantador de naus a haver,

E ouve um silêncio múrmuro consigo:

É o rumor dos pinhais que, como um trigo

De Império, ondulam sem se poder ver.

 

Arroio, esse cantar, jovem e puro,

Busca o oceano por achar;

E a fala dos pinhais, marulho obscuro,

É o som presente desse mar futuro,

É a voz da terra ansiando pelo mar.


D. Dinis I  foi o sexto Rei de Portugal, cognominado o Lavrador pela plantação dos pinhais de Leiria e também é reconhecido como o Rei Trovador ou o Rei Poeta, pelo seu interesse nas Letras e nas Ciências.

Na primeira estrofe é possível destacar esses dois interesses: o seu interesse pela poesia, na passagem que diz “Cantar de Amigo” e o interesse pela terra, pela plantação de pinheiros.
Nesta passagem “ouve um silêncio múrmuro consigo”, o Rei inicia uma meditação pessoal acerca do futuro dos portugueses. D. Dinis pressente que esta fala misteriosa dos pinhais, que já ondulavam na sua imaginação remete para o futuro dos portugueses pelo mar em que formar-se-á um novo império, o quinto império, muitas vezes nomeado ao longo da obra de Fernando Pessoa.
Camões apresenta uma perspectiva completamente distinta de D. Dinis, em relação à perspectiva de Fernando Pessoa. Enquanto o D. Dinis de Camões preza a construção de Portugal e de suas instituições, o D. Dinis de Fernando Pessoa anseia pelo mar e pelo desconhecido.O tema central deste poema é o futuro. A perspectiva temporal remota a este rei que irá inaltecer as glórias futuras de Portugal e, é evidente que a mensagem do poema se centra sobretudo no futuro, no destino previamente traçado pelos portugueses.