sábado, 8 de outubro de 2011

O DIREITO DE VIR A SER MULHER


       Não gosto de pensar em certas coisas que me rodeiam nos dias de hoje. Os tempos avançaram assim como a mentalidade de várias sociedades também deveria ter avançado… Mas não sei o que se passa, há ainda por todo o Mundo, locais onde são cometidas terríveis atrocidades contra jovens raparigas que ainda pouco desta vida conhecem.
Sociedades com mentalidade fechada aceitam e praticam aquilo a que podemos chamar de excisão feminina.
       Uma mutilação horrenda que infelizmente bate à porta de cerca de uma em cada quatro menores em países onde a civilização ainda não chegou.
       Para mim trata-se de um problema sociocultural baseado em conceitos errados. É algo que não consegue ultrapassar a minha compreensão. Mas esforço-me por entender que se trata de um costume, muitas vezes orientado por crenças religiosas, que faz parta da vida de várias sociedades há muitas e muitas gerações…
       Não sou psicóloga, mas já fui criança e o pouco que recordo é aquilo que mais me marcou, já imaginaram agora o que não será para uma criança indefesa e assustada, mais tarde aperceber-se de que grande parte da sua felicidade foi tirada à força sem qualquer tipo de piedade, quando ainda nem tinha capacidade de escolha? As marcas e recordações atrozes que isso não deixará no para toda a vida?
       A excisão consiste em cortar as partes genitais femininas para que, já mais velhas, não possam vir a ter qualquer tipo de prazer amoroso a não ser com o homem com quem casarem, como se pudessem ser comparadas a uma reserva. Ao fazerem isto a pequenas vítimas é como se estivessem a retirar-lhes as escolhas que queriam para o seu futuro, como se escolhessem e traçassem os seus destinos em vez de elas próprias…
       Obrigam-nas a viver uma vida que não escolheram e em condições sub humanas.
       Actos destes violam todos os tipos de direitos que dizem respeito ao ser humanos e causam danos físicos e psicológicos irreversíveis.
       Sinceramente não sei o que se poderia fazer para resolver tal situação, com a qual eu discordo plenamente. O problema depende bastante da mentalidade de cada um pois há quem dê mais importância a questões culturais e tradicionais do que a questões de ética, e vice-versa…
       Até há pouco tempo apenas tinha lido sobre esta situação, mas sempre que tal assunto vinha ao de cima, provocava furor em mim. Vi um filme chamado “A Flor do Deserto”, que abrange este tema em específico.
       Foi um filme que me marcou, porque pude ver com melhores olhos aquilo que pode acontecer a imensas raparigas de todo o Mundo. É cruel como a vida pode ser tão injusta e difícil para aquelas que possuem uma ferida tão grande nas memórias do passado…
       Visionar esse filme apenas me ajudou a fortalecer ainda mais a opinião que tenho acerca do assunto e a querer lutar para que algo seja feito contra a falta de direitos que essas meninas têm sobre as suas próprias vidas.
       Fico a pensar… Que soluções possíveis poderíamos colocar para ajudar a salvar o futuro destas pobres meninas? Remover de vez tais hábitos seria algo impensável, pois estamos a falar não do costume de uma família mas sim de um costume adquirido por milhares e milhares de famílias do continente Africano e que provêm de séculos atrás. Já para não falar de que nem todas as que sofrem destas mutilações se revoltam porque devido a influências de família e de sociedade, acreditam que é o melhor para elas e apoiam a sua cultura, coisa que não critico de modo algum mas que me custa bastante a entender.
       Grandes organizações não governamentais (ONG) já lideram campanhas e operações de apoio, mas pouco mais há a fazer porque iremos sempre voltar ao mesmo ponto da questão que é ver em confronto a tradição e costume com a ética e a moral.
       Quando me refiro a actos cruéis não falo apenas da excisão feminina como me refiro também a todos os outros que estão sob os olhos de muitas crianças menores que não sabem o que as espera num futuro mais próximo, como a mutilação mamária, abusos sexuais e exploração de toda a ordem.
       Todos deveríamos ter o direito a sentir emoções, a sentir que vivemos e aproveitamos bem a vida, que somos livres de fazer loucuras e aproveitar o que o mundo tem para dar, essas raparigas vivem como que numa jaula invisível, presas a uma tradição em busca de aceitação, passam assim uma vida apenas meio vivida e por vezes nem tanto. Admito, tenho pena delas e isto revolta-me por saber que acontece a todos os instantes.
       A mulher foi um ser tão bem concebido como o homem, ambos vieram ao mundo para se complementarem e tornarem a Terra um sítio melhor, porquê provocar tristeza, dor, revoltas e impedir que a força da natureza tome as suas verdadeiras formas?




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