sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Interpretação da Secção IV do Sermão


Na secção IV do Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira tenta mostrar aos peixes como eles são iguais aos homens, que tal como eles, se comem uns aos outros. Apesar de todos se comerem a todos, existe na verdade um padrão. Quase sempre são os grandes que comem os pequenos, raramente o contrário. Os mais poderosos nunca estão satisfeitos e querem sempre mais. Tal como os peixes grandes que não ficam satisfeitos com uns quantos peixes pequenos. No entanto o verbo comer em praticamente todo o parágrafo, não serve como um verbo literal mas sim como um verbo figurado. Comer não implica o acto de ingerir comida, mas sim o acto de devorar o que as pessoas têm. Os grandes tiram, comem, tudo o que pertence aos pequenos, e é neste sentido que Padre António Vieira põe o verbo comer. Devoração da alma e pertences de alguém. Padre António até considera que a devoração entre os brancos é pior, e em maior quantidade, um hábito, que nos Tapuias, uma tribo canibal. Existe por isso uma diferença entre a devoração de que Padre António fala, da devoração que funciona como um controlo dos pequenos pelos grandes, e da devoração dos Tapuias. A fome pelo controlo é pior. Tantos que as pessoas na cidade passam o dia à procura de pessoas para comerem e ao mesmo tempo, estão prontos para serem comidas. Esta fome é tão grande, que até mesmo depois de mortas, as pessoas são devoradas. Do momento em que morrem até serem comidas pela terra. Isto é resumido na última frase do parágrafo: “…enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.” As pessoas são comidas por todos antes de finalmente serem comidos pela terra. Padre António Vieira critica as pessoas criticando os peixes, na forma que ambos se comem uns aos outros, simplesmente de maneiras diferentes.

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