Depois de enfrentarem uma
violeta tempestade, chega o triunfo dos portugueses, a tão esperada chegada à
Índia.
Este momento representa a
capacidade de superação de inúmeros tormentos e de transposição de quaisquer
obstáculos que levam à conquista de glória e imortalidade por mérito próprio.
Assim sendo, Camões reflecte acerca do valor de tais honras, contemplando a
atitude heróica subjacente, distinguindo-a das restantes condutas, pois só as
glórias alcançadas por mérito próprio são valorizadas e somente estas poderão
atingir a imortalidade como uma recompensa.
Estas reflexões do poeta para além
de enaltecerem os feitos portugueses, funcionam como uma crítica a quem procura
o mérito e a glória por intriga e favor dos poderosos. A imortalidade dos
feitos alcançados e sobretudo do modo como foram alcançados é por si só uma
recompensa, mas apenas atingível para aqueles capazes de renunciar às honras e
dinheiros fáceis e que se dispõe a vencer inúmeros perigos, como havia feito
Vasco da Gama.
Para Camões, o sofrimento, a
superação de perigos e de limitações pessoais, a disponibilidade para a guerra
e as navegações árduas para regiões inóspitas são imprescindíveis na busca da
glória. Glória essa que se torna inatingível para os que se refugiam nas honras
conquistadas pelos seus antepassados, bem como aqueles que vivem no luxo e
requintes supérfluos ou na inércia do comodismo. Sem barreiras pela frente,
todos são heróis, por isso o esforço, a dedicação e entrega total são as
principais características de um povo meritório e com valores.
A honra
não pode ser senão o fruto de um esforço
incondicional, que envolva sofrimento e luta constantes face às dificuldades,
associados à coragem na confrontação com o perigo, configurando uma atitude
virtuosa do indivíduo. Só assim será possível gerar uma honra genuína que no
fundo é o início da recompensa, pois o mérito e os valores são os únicos meios
de aquisição da experiência e do conhecimento.
Posto
isto e concluindo que Camões tal como a maioria de nós
prefere aqueles que se movem pala capacidade de luta e sofrimento, alcançando a
eternidade pelos seus valores e feitos, será que os Lusíadas em nada se podem
assemelhar com o mundo de hoje?
Na verdade, também hoje podemos distinguir os dois tipos de
glorificação tal como Camões o fez há vários séculos.
Hoje todos somos responsáveis
por honrar quem edifica algo de valor, quem luta contra adversidades e se
dedica a causas nobres e não aqueles que têm um caminho cheio de facilidades
pela frente. A honra tem de ser construída pela acção humana, pois são os
nossos actos que mostram realmente aquilo em que acreditamos e o que realmente somos
capazes de fazer, não só por nós, mas também pelos outros.
Catarina Torrinha
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