quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Síntese dos poemas Oriente e Fernão de Magalhães

Os poemas “Ocidente” e “ Fernão de Magalhães” integram-se na segunda parte da Mensagem intitulada “Mar Português”. Nesta segunda parte, os poemas são inspirados na ânsia do desconhecido e no esforço heroico da luta contra o mar.
Ocidente
Três quadras e rima cruzada.
Refere-se às navegações para Ocidente e em particular à descoberta do Brasil (1500), por Pedro Álvares Cabras.
1ª Estrofe
Fernando Pessoa utiliza aqui uma metáfora humana, que são as duas mãos. Estas mãos são interdependentes apesar de cada uma simbolizar dimensões distintas e funções particulares e diferentes. Temos a mão que representa – O Destino. Esta, “ergue o fecho trémulo e divino”. É Deus que comanda esta mão e que por isso ilumina o Homem e o guia dando-lhe um destino pelo qual ele se deve entregar e lutar para o conseguir concretizar. Temos aqui representada uma dimensão superior e não terrena mas que interfere na consciência dos Homens que se sentem guiados e inspirados por esta mão. Temos também, e não menos importante, a mão do – Acto. Esta “afasta o véu”. O véu representa o que separa o querer de Deus e a ignorância do Homem. Esta mão já se refere a algo mais palpável ou seja, a uma dimensão terrena. Nesta dimensão temos a perceção do Homem do divino e a ação em função dele. O Homem é iluminado e aceita o que lhe foi destinado, demonstrando-o através do ato. É o conjunto e a ação das duas mãos que permitem a descoberta, daí elas estarem interdependentes.
2ºa Estrofe
Esta estrofe fala da mão do Acto. Diz-nos que fosse em que altura fosse, ou seja, independentemente das circunstâncias, esta mão tinha duas componentes que a tornavam firme. Estas componentes são: a Ciência (alma) que se refere aos conhecimentos náuticos (marés, ventos, direções, a nível das embarcações etc.) que permitiram uma navegação mais inteligente e mais segura dentro dos possíveis e a Ousadia (corpo) que se refere ao instrumento que na prática efetua a ação em si. A ousadia refere-se por isso à entrega física dos marinheiros que têm de superar muitas dificuldades e agir com coragem e espirito de entrega. “O Acto” tendo as duas componentes, a Ciência e Ousadia leva à concretização e ao desvendar do véu como anteriormente já referi.
3ª Estrofe
No primeiro verso “Fosse acaso, ou Vontade, ou Temporal” o Imperativo do Conjuntivo “Fosse” exprime uma controvérsia quanto à chegada dos Portugueses ao Brasil. Não se sabe se a chegada ao Brasil foi por acaso, planeada ou por causa de um temporal que desviou a rota de Álvares Cabral das Áfricas para a América. De qualquer maneira, havia um Destino para os portugueses. Destino esse em que Deus é a alma e Portugal o corpo. A mão do Destino é Deus que a comanda, ele que é força divina e que conduz os Homens e estes, por sua vez, são o corpo ou melhor dizendo, são o instrumento divino. Os marinheiros, completos em alma e corpo conseguiram enfrentar um destino a eles confiado e foram conduzidos por Deus e assim, desvendaram novos mundos.

Fernão de Magalhães
4 sextilhas e rima emparelhada e cruzada (aabcbc)
Este Homem serviu muitos anos a coroa portuguesa no ultramar. Descontente por não ter obtido de D.Manuel I uma recompensa a que se julgava com direito, foi oferecer os seus serviços a Carlos V (rei de Espanha) que lhe confiou uma frota. Magalhães planeou e comandou a primeira viagem de circum-navegação ao globo (1519). Foi o primeiro Homem a dobrar o estreito no sul da América que ficou conhecido como estreito de Magalhães. Foi também o primeiro a cruzar o Oceano Pacífico, que nomeou. Nessa mesma viagem, Fernão de Magalhães, foi assassinado nas Ilhas Molucas, nas Filipinas pelos nativos.
Pessoa fala de Fernão de Magalhães não como herói dos Descobrimentos Portugueses porque na realidade ele estava ao serviço da coroa espanhola. O autor neste poema fala apenas da dos feitos dele ou seja, da viagem em si.
1ª Estrofe
Aqui é-nos apresentado o ambiente do poema, fazendo-nos imaginar uma cena. Percebe-se que se trata de uma comemoração estranha feita às escuras, por seres estranhos.
2ª Estrofe
As sombras que dançam são os Titãs (gigantes) filhos da Terra. A morte do marinheiro é por isso motivo de celebração porque Magalhães era uma ameaça uma vez que era o chefe que comandava aquela volta à terra.
3ª Estrofe
Os Titãs demasiado cedo se julgam vencedores. Pessoa revela-nos um Magalhães ainda vivo mesmo em memória. Depois da sua morte (1521,) a armada prosseguiu até ao fim da viagem. Magalhães reencarna em força, numa alma sem corpo que comanda a armada em espírito. Mesmo ausente, a viagem era a sua vontade e o objetivo foi atingido também por sua ação indireta. Fernão de Magalhães cumpriu aquela viagem, não só com o corpo mas também com a alma. Foi por isso a sua vitória: ”até ausente soube cercar a Terra inteira com seu abraço”.
 4ª Estrofe
A palavra violar é usada no sentido de “tornar humano o que antes era divino”. Com a utilização deste termo, é-nos apresentado um contraste e um lado mais obscuro em relação ao que nos foi antes apresentado na terceira estrofe. Aqui, Magalhães toma o papel de violador da terra ou seja, Homem que transgrediu, infringiu, profanou, invadiu e quis tornar seu o que não lhe pertencia.  A Terra é imensamente grandiosa e é algo que ninguém pode conquistar, ela é a mãe de tudo, ela é a mãe do Homem que nela habita e nunca o homem poderá tomar uma posição superor à da terra.
Os Titãs estão concentrados nas suas danças e não sabem da conclusão da viagem.
Fernando Pessoa emprega um tom triste, quer nas danças dos titãs quer na esquisita vitória de Magalhães. Dizendo que ele é “violador da terra” não um descobridor ou um herói, como se as suas mãos e espírito fossem impuros  talvez porque sinta neles a traição. Não o chama desleal ou qualquer outro nome ofensivo, mas torna a sua glória menos intensa e luminosa.
 Mafalda Caldeira

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