sábado, 3 de novembro de 2012

"O Dos Castelos" & "O Das Quinas"

   Os poemas da Mensagem de Fernando Pessoa encontram-se agrupados em três partes: Brasão, Mar Português e O Encoberto. A primeira parte representa o símbolo da origem e da fundação da nação portuguesa. Dentro desta parte, encontramos um primeiro momento, denominado Os Campos. O campo é a parte interior do Brasão português e possui dois fragmentos: a dos Castelos e a das Quinas. Daí os títulos dos poemas apresentados.
  O primeiro poema, intitulado "O Dos Castelos", remete-nos principalmente para a descrição geográfica do continente europeu. Aqui, a Europa (figura feminina) emerge deitada sobre os cotovelos, apoiando o rosto na mão direita. O verbo jazer, utilizado na primeira estrofe, tem como significado estar deitado ou estar morto. Esta ideia reforça a atitude passiva do continente e a necessidade de Portugal, como rosto da Europa («o rosto com que fita é Portugal»), para despertar o continente adormecido. Esta descrição pode ser comparada com a descrição da Europa  realizada por Vasco da Gama na obra Os Lusíadas de Luís de Camões, mais especificamente no Canto III nas estrofes 17, 20 e 21. 
 Existe particular atenção para com as civilizações gregas e romanas que participaram no enaltecimento e enriquecimento da cultura europeia. A partir destas heranças, era possível a cultura se desenvolver ao longo dos tempos devido às combinações paradoxais entre as culturas do sul (que representam o romantismo) e as do norte (que representam a revolução industrial). Esta mistura, bem como os antepassados europeus anteriormente referidos, serviram de apoio a Portugal para que este consiga alcançar os seus objectivos e cumprir o seu destino. 
  Com lugar geográfico privilegiado, Portugal fica com uma missão e um destino pré-definidos. Existe, portanto, um contacto com um oceano desconhecido e misterioso que provoca um aumento constante do desejo e do apetite para explorar sítios longínquos e desconhecidos. Por outras palavras, a missão deste país vai ser guiar a Europa e o mundo até a um império espiritual. Isto é alcançado através dos Descobrimentos e da explorações marítimas que vão traçar o futuro do grande continente europeu. Podemos concluir que neste primeiro poema da obra, Fernando Pessoa demonstra a necessidade e o papel de Portugal para a Europa e para o mundo. Esta ideia vai servir de molde para os restantes poemas da Mensagem.
   O  segundo poema, intitulado "O Das Quinas", transmite-nos uma dimensão espiritual que não nos era possível verificar no primeiro poema. O autor afirma que os Deuses escondem uma venda quando parecem dar, ou seja, nada é conquistado sem sacrifício. Para alcançar a glória é  necessário haver sofrimento. Porém, o sofrimento para que se luta é por vezes eterno, sempre presente. Com isto, as pessoas nunca mais poderão sentir a felicidade, estando sempre em pleno sacrifício. Fernando Pessoa, com isto quis dizer que as pessoas que ainda possuem a capacidade de sentirem a felicidade, são assim abençoadas, mesmo se esta emoção seja passageira.
   Na segunda estrofe, o autor começa por realçar que não devemos procurar além do que nos é dado pelo destino, pois a vida é curta para satisfazer todos os desejos da alma humana. Desta forma, possuir é uma ilusão, para atrasar a verdadeira compreensão da vida. Esta ideia explica o último verso da estrofe: «Ter é  tardar».
   Fernando pessoa completa o poema com uma comparação com o Jesus Cristo. Esta ideia é baseada no sofrimento deste que serviu para determinar o seu próprio destino. A glória do Salvador veio também através de um grande sofrimento, como todos os homens. A importância do sacrifício de Cristo aqui serve para que os homens se redimissem e também para que estes pudessem conhecer um destino superior. Concluindo, o campo das quinas simboliza, em geral, a espiritualidade em Portugal. 

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