domingo, 18 de novembro de 2012

O Grifo - Apresentação Oral



Introdução

A Cabeça do Grifo, Uma Asa do Grifo e A Outra Asa do Grifo são os três últimos poemas da primeira parte da obra A Mensagem, intitulada Brasão. O Brasão reflecte a origem e a fundação da nação, a essência de ser fidalgo de Portugal. Cada um dos seus elementos simboliza outra realidade, no entanto, todos têm algo em comum, o esforço por Portugal, quer seguindo o seu caminho natural, quer contrariando-o, sacrificando-se.
Estes três poemas constituem a quinta parte de o Brasão, o Timbre, que representa o símbolo do poder legítimo como marca pessoal e possui como símbolo central o grifo.
O grifo é um animal mítico com bico e asas de águia e corpo de leão. O seu corpo de leão representa a ligação à Terra e os traços de águia remetem para o céu, para o poder da procura da ascensão. Esta procura do transcendente pode ser comparada ao episódio do Velho do Restelo dos Lusíadas, no qual os portugueses eram definidos como um povo que mantinha a cabeça voltada para cima, com a esperança de ir mais além. O grifo simboliza então a união de duas Naturezas, a humana e a divina, o que remete para a própria natureza de Deus, uma união da terreno com o céu, união essa que caracteriza a condição de herói.



A Cabeça do Grifo
O Infante D. Henrique

            A cabeça do grifo detém a visão de águia, precisa à distância e é na obra a Mensagem metaforicamente o Infante D. Henrique como símbolo da sabedoria. A sabedoria que permite a criação do sonho, sendo que o sonho é o que dá vida ao homem, senão este limita-se à mediocridade.
D. João II, filho de D. João I e D.ª Filipa de Lencastre é um dos eleitos da ínclita geração, isto é, da geração nobre e dourada dotada de um grande conhecimento. Com esta sua sabedoria que leva à idealização concebeu e impulsionou os descobrimentos, não como navegador, apenas como ideólogo, daí ser nesta obra metaforicamente a cabeça do símbolo mítico.
O infante assume então uma atitude estática e imperial, característica do poder (“Em seu trono”). É caracterizado como um homem que olha para o infinito, para o horizonte em busca de mais e mais conhecimento (“entre o brilho das esferas”), que procura o desconhecido (“com seu manto de noite”) e tem como meio para esse objectivo a solidão, solidão essa que propicia a idealização de todo um sonho para uma futura realização de grandes feitos (“com seu manto de solidão”). Senhor do mar e do mundo inteiro (“Tem aos pés”), conhece as notas rotas descobertas (“o mar novo”) e experienciou um passado de ignorância e temor do desconhecido (“e as mortas eras”). “É o único imperador que tem deveras; O globo mundo em sua mão” pois é o único capaz de idealizar tão grandiosidade por ser o maior possuidor do conhecimento.


As Asas do Grifo
As asas do grifo, D João II e Afonso de Albuquerque, remetem para a conquista de um estado além-humano, isto é, da união da dimensão espiritual ao conhecimento que já o Infante possuía.
Deste modo, fazem levantar do chão a visão do Infante com uma conjugação da dissociação do terreno e da união de duas emanações divinas, a força e a inteligência.
Mais uma vez é estabelecida uma relação com os Lusíadas, na medida em que as asas remetem para o poder de ascensão, de sair do lógico e concreto para olhar para cima, uma característica atribuída ao povo português na obra referida.


Uma Asa do Grifo
D. João, O Segundo

D. João, o segundo, representa a asa que impulsiona os descobrimentos, a que prepara a execução do sonho idealizado.
Assim, a presença desta figura na obra A Mensagem de Fernando Pessoa pode assumir a ideia de que o impulso é dado sem força, mas com vontade, isto é, sem serenidade, mas com determinação (“Braços cruzados). D. João é o contemplativo visionário que aceita o desafio (“fita”) de ir além do já conquistado (“além do mar”), o sonhador que procura o horizonte e a expansão do limite (“O limite da Terra a dominar; O mar que possa haver além da Terra”).
Na segunda estrofe é reforçada a ideia de solidão como propiciadora da idealização e realização de grandes feitos, algo que apaga a individualidade em favor de Portugal (“seu formidável vulto solitário”).
Se o Infante era o senhor dos mares, D. João era denominado como o futuro rei dos mares, aquele que iria pôr gente nova em novos mares sob novos céus (“Enche de estar presente o mar e o céu”), mas que iriam temer (“parece temer o mundo vário”). Apesar do temor, ele ansiava a quebra dos segredos do mar e da vontade do mundo, o desvendar dos mistérios (“Que ele abra os braços e lhe rasgue o céu”).


A Outra Asa do Grifo
Afonso de Albuquerque
           
Fernando Pessoa caracteriza a outra asa do grifo como a que ergue a visão do infante, após uma preparação para a acção de D. João II, como a que age e concretiza todo os sonho.   
Define então a figura de Afonso de Albuquerque como um herói pelas armas (“De pé sobre os países conquistados”), no entanto, despe-lhe a pele de herói e guerreiro para desvendá-lo como homem, desvendando-o então como alguém cansado (“Desde os olhos cansados”) da injustiça e do destino (“a sorte”) que o mundo lhe reserva, o esquecimento. O esquecimento era já nos Lusíadas revelado como o destino dos Portugueses, mesmo apesar da realização de grandes feitos.
Este, caracterizado como um homem austero, revelava uma opção clara pelo poder espiritual, moral e dos valores. Apresentava deste modo uma fidelidade total ao rei, não desejando mais quando poderia fazê-lo (“Tão poderoso que não quer o quanto Pode”), pois o sucesso pesava mais sobre os ombros do que a conquista dos povos, visto que tinha trazido a inveja na corte (“que o querer tanto calcara mais do que o submisso mundo; sob seu passo fundo”). 
Com suas bases de poder de acção, criou três impérios, que para Fernando Pessoa são domínios, o material, o intelectual e o espiritual, no entanto, criou-os seguindo o seu destino (“Três impérios do chão lhe a sorte apanha”) de cumprir Portugal (“Criou-os como quem desdenha”).
Afonso de Albuquerque, apesar de criador dos três impérios, definia o poder executado com bases de justiça, lealdade, coragem e respeito mais valioso que o poder executado violentamente, assumindo assim a atitude um verdadeiro herói, indiferente ao poder. Esta definição de herói também nos Lusíadas nos era apresentada, como a merecedora de recompensa.    


Conclusão

 Agostinho da Silva escreveu: “o grifo com a sua cabeça de águia adivinhando o mundo como um perfeito globo, ou melhor, obrigando o mundo a ser o globo que pensava; com uma de suas asas rasgando o firmamento num sulco de vontade, e com a outra rasgando num sulco de poder.”
A visão do infante é aqui mencionada por Agostinho da Silva como o que adivinha o mundo, o que obriga o mundo a ir de encontra à sua ideologia. O sulco de vontade é característico do poder da vontade de D. João o segundo e o sulco de poder o que define o poder da força de Afonso de Albuquerque.
Assim, o império funda-se com visão, vontade e força.  

Catarina Torrinha

2 comentários:

  1. Este trabalho acerca d' "O Timbre" da "Mensagem", de Fernando Pessoa, está simplesmente extraordinário!! Muito obrigado por teres colocado isto na Internet, só me pesa que não tenha maior projeção no Google, os outros trabalhos são inúteis ou simples abjeções ;)

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