A mensagem, de
Fernando Pessoa está dividida em três partes: o Brasão, o Mar Português e o
Encoberto.
O quinto poema, D.
Afonso Henriques e o sexto poema, D. Dinis, fazem parte da primeira parte da
Mensagem, o Brasão, ou em latim, Bellum
sine bello que significa "Guerra sem armas".
Representa um ideal
de conquista espiritual e humano, não só a nível religioso como também cultural
que tem importância no que ocorreu no passado e que influência terá no futuro. Simboliza
o passado, o que é eterno que normalmente é descrito como a nobreza espiritual
do herói português.
O primeiro poema
que eu vou apresentar é o de D. Afonso Henriques.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Q_v0bIOsUGkay7c4yA4erWRguk1wmqcL9KASz50XhNAy3-lyhSLvD03anMXm7heamMRZHZ6bXIBoGGn2ReXBBMx_y7D5cnhOuAw89SAiPesgpe_ur3g1JKYtcvtE83T4yjc0UVBQoKE/s200/200px-AfonsoI-P.jpg)
QUINTO / D. AFONSO
HENRIQUES
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como benção!
D. Afonso Henriques foi o primeiro Rei de Portugal
cognominado O Conquistador, não
só pela fundação do reino de Portugal, como também pelas suas inúmeras
conquistas.
Penso que esta
estrofe da Mensagem relaciona-se com
o episódio da Batalha de Ourique, dos
Lusíadas. A batalha de Ourique foi a prova da existência de um Portugal independente
por vontade divina que tornou-se assim eterno.
O objetivo de D.
Afonso Henriques não era só o de reconquistar a península Ibérica. Queria
também impulsionar a fé cristã e neste episódio da Batalha de Ourique, embora
os números dos inimigos, dos “infiéis” como são descritos na Mensagem” fossem
superiores, Deus ajudou o povo português a concretizar esse sonho.
Neste poema, o
“Eu”, o povo português roga ao seu salvador, ao primeiro Rei de Portugal que
ele seja tomado como o exemplo a seguir, que lhes dê a força e a bênção que
recebeu de Deus e da sua vontade divina para enfrentarem os mouros. Tal como os
mouros foram o obstáculo de D. Afonso Henriques na expansão territorial e na
expansão da fé cristã, também para os portugueses, ”os novos infiéis”, serão
uma atualização desse mesmo obstáculo.
O segundo poema que
irei apresentar é o de D. Dinis.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVdz3h6rmU0DCsx8Cn93T4d1AETc2ULWSkXzOVk2QgP4xMjpU-dFJTE8oZ6X69eU_wXJMFpZxe2-h9C3-NedD2f9FMrmlG2nXAYJY8j12MtQDMxTwy42tlFNbWhgn3mv4bCtwb9OFIqfM/s200/200px-Dinis-P.jpg)
SEXTO / D. DINIS
Na
noite escreve um seu Cantar de Amigo
O
plantador de naus a haver,
E
ouve um silêncio múrmuro consigo:
É
o rumor dos pinhais que, como um trigo
De
Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio,
esse cantar, jovem e puro,
Busca
o oceano por achar;
E
a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É
o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra
ansiando pelo mar.
D. Dinis I foi o sexto Rei de Portugal, cognominado o Lavrador pela plantação
dos pinhais de Leiria e também é reconhecido como o Rei Trovador ou o Rei Poeta, pelo seu interesse nas Letras e nas Ciências.
Na primeira estrofe é possível destacar esses dois
interesses: o seu interesse pela poesia, na passagem que diz “Cantar de Amigo”
e o interesse pela terra, pela plantação de pinheiros.
Nesta passagem “ouve um silêncio múrmuro consigo”,
o Rei inicia uma meditação pessoal acerca do futuro dos portugueses. D. Dinis pressente que esta fala
misteriosa dos pinhais, que já ondulavam na sua imaginação remete para o futuro
dos portugueses pelo mar em que formar-se-á um novo império, o quinto império,
muitas vezes nomeado ao longo da obra de Fernando Pessoa.
Camões
apresenta uma perspectiva completamente distinta de D. Dinis, em relação à
perspectiva de Fernando Pessoa. Enquanto o D. Dinis de
Camões preza a construção de Portugal e de suas instituições, o D. Dinis de
Fernando Pessoa anseia pelo mar e pelo desconhecido.O tema central
deste poema é o futuro. A perspectiva temporal remota a este rei que irá inaltecer as glórias futuras de Portugal e, é evidente que a mensagem do poema se centra
sobretudo no futuro, no destino previamente traçado pelos portugueses.
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