domingo, 18 de dezembro de 2011

Apresentação Oral



O Nariz

O autor da obra “O Nariz” é Nikolai Gógol e o livro foi publicado, pela primeira vez, em 1836.
À primeira vista parece um simples conto para entreter, mas à medida que vamos lendo a obra, apercebemo-nos que é muito mais do que isso, é uma sátira e uma crítica burlesca à sociedade da época, em que o autor retrata uma sociedade extremamente burocrática, dividida em classes, onde o dinheiro e o poder têm papel dominante.
Não é por acaso que houve várias tentativas de censurar a sua publicação.
Vou começar por fazer o resumo do livro:
 A história passa-se em São Petersburgo.
Um dia, um barbeiro, chamado Ivan, acorda, vai tomar o pequeno-almoço e ao partir o pão encontra lá dentro o nariz de um sujeito que ele tinha barbeado na semana anterior. Mas não é uma coisa mutilada, é um nariz em perfeito estado. Ele apavora-se e antes que pensem que ele é um criminoso, sai de casa o mais rápido possível para se livrar do nariz.
Dirige-se a uma ponte e atira o nariz. Ao fundo da ponte está um polícia que lhe pergunta o que é que ele está a fazer, ao que ele responde “nada”. E nunca mais se soube nada sobre Ivan.
Entretanto, no outro lado da cidade, o dono do nariz acorda. Este é um assessor de colégio, chamado Kovaliov, mas que gostava de ser tratado por Major, esperando ganhar assim uma maior importância e relevância social.
Como no dia anterior o major tinha uma borbulha no nariz, e sendo ele muito orgulhoso do seu aspecto e dado às aparências, pediu um espelho. Ao mirar-se, passou a mão no local da cara onde habitualmente costumava estar o nariz, e nada. Estava raso. Desaparecera!
Ele desespera-se e começa a grande busca atrás do seu próprio nariz. É cómico pelo absurdo e ridículo da situação!
Assim, sai rapidamente de casa, vai ao café onde costumava ir todos os dias mas não cumprimenta todas as pessoas como sempre costumava fazer. No café repara que realmente não tem o nariz.
Ao sair do café, para seu espanto, descobre-o, — o seu próprio nariz — a passear-se pela cidade, fazendo-se passar por Conselheiro de Estado “num uniforme bordado em ouro, com uma gola alta, calças de camurça e uma espada ao lado”. O major conversa indignado com o seu imponente e importante nariz e este nega sequer conhecê-lo.
Mais tarde, Kovaliov perde o nariz de vista e, muito preocupado, vai pedir ajuda aos jornais e esquadras para que o procurem. Daria uma recompensa a quem o encontrasse.
O dito nariz, ao longo do conto, ora surge na face de alguém de alta patente, não passando cartão nem ao próprio dono; ora segundo diziam os boatos e rumores, se julga estar noutros locais na posse de outros intervenientes.
Digamos que se passeia por Petersburgo envergando melhores ou piores roupagens. Vai subindo ou descendo de categoria. No entanto, o apêndice é o mesmo de sempre.

Estes episódios fazem-me lembrar um verso do poeta António Aleixo: “Uma mosca sem importância poisa com a mesma alegria, na careca de um doutor, como em qualquer porcaria...” , pois a mosca não julga as coisas sem saber primeiro como são.

Um dia quando o major Kovaliov acorda, e se vê ao espelho, tem o nariz de volta, o que deixa o burocrata absolutamente tranquilo, sem maiores preocupações com o acontecimento incrível, não se questionando nem querendo saber porquê. E a sua vida continua normalmente como ocorre com todas as burocracias, cujas preocupações são exteriores ao ser humano.
Passo agora à análise do conto:
Este texto é cheio de sentido de humor e de imaginação.
A narrativa oscila entre o trivial (quotidiano) e o absurdo (quando o nariz chega a andar pelas ruas); oscila entre o imaginário e a realidade.
Este conto, para mim, é uma sátira social, onde o autor realça a mesquinhez e a hipocrisia das personagens, pois, por exemplo, Kovaliov só casava se a mulher fosse rica. Trata-se assim de um homem que procura a ascensão social, vivendo num mundo de aparências, em que o interior da pessoa não lhe interessava minimamente.
A crítica à importância das aparências está ainda bem patente noutra passagem do livro, quando o major Kovaliov deixa de fazer o seu próprio trabalho por lhe faltar o nariz, porque a maneira como os outros o vêm e olham é algo que o atormenta. Por isso, deixou de funcionar em sociedade, de fazer a vida dele, porque se sente incompleto.
Os tiques ridículos, os preconceitos e as diferenças sociais são apontados quando Kovaliov parte em busca do seu nariz. Ao encontrá-lo disfarçado de Conselheiro de Estado, fica sem saber o que fazer e como abordá-lo, uma vez que se encontrava numa posição superior. A postura servil e o nervosismo imediatamente adoptados por Kovaliov mostram, uma vez mais, a importância da aparência e da estrutura social.
Através do diálogo entre o major e os jornais e os funcionários da esquadra, o autor faz uma crítica à excessiva burocracia, às deficiências das estruturas do Estado, ao funcionalismo público, à influência do dinheiro e à corrupção, pois Kovaliov obteve prioridade na publicação da busca do seu nariz porque era de uma classe social superior.
Quanto à descrição das personagens e dos ambientes onde decorre a narração fazem-me lembrar Eça de Queiroz em “Os Maias”, porque, tal como este, Gógol lança um olhar pormenorizado sobre os adornos, as vestes e os acessórios, que servem para identificar e diferenciar as várias classes sociais.
“O Nariz surge também como um texto que se ocupa da influência do oral, do boato e da construção de histórias, sendo todo o conto construído nesse registo, como se o narrador o contasse de memória, após o ter ouvido por outra pessoa.
Para concluir, este livro fez-me perceber que a aparência não é a coisa mais importante, temos de conhecer bem os outros antes de começar a julgar e temos de viver a nossa vida sem ser em função do que os outros podem pensar de nós.

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