sábado, 17 de dezembro de 2011

Aparição - Vergílio Ferreira

Vergílio Ferreira estudou num seminário e licenciou-se em Filologia Clássica em Coimbra, passando a dedicar-se ao ensino secundário.
A obra Aparição revela o escritor de eleição e é um romance que, na opinião de grandes críticos literários é um dos mais notáveis escritos em língua portuguesa.
Ainda segundo eles é um empolgante e belo livro que assinala elevado lugar na nossa literatura, pela sua problemática, pelas suas implícitas ou possíveis respostas e sobretudo, pelo seu estilo.

Vergílio Ferreira expõe-nos com toda a clareza neste livro a sua posição perante o existencialismo, a procura da felicidade, a aparição de si mesmo e gritar a sinceridade dramática da sua angústia.


O autor tem uma escrita bastante pormenorizada, dando a entender que o seu pensamento está sempre envolto numa camada obscura e pesada… inicia o seu livro com uma recordação do passado, em busca de conforto e felicidade. Recorda a morte do seu pai no norte de onde proveio e não deixa de nos mostrar a sua desilusão ao ser colocado em Évora e não em Lisboa para onde tinha concorrido. Esse retorno ao passado, relacionado com a família, relata-nos o que o levou a ter estas teorias filosóficas.

Foi em Évora que estabeleceu contacto com outras pessoas, com as quais discutiu as suas teorias relacionadas com a sua existência, a procura do seu verdadeiro eu e da sua aparição.

E é em Évora que nos pinta o retrato de uma família burguesa de província e nos descreve com um realismo impressionante o perfil psicológico dos componentes de cada um dessa família.

O pai Moura e sua mulher, a filha Ana casada com o agricultor Alfredo que eram culturalmente diferentes, a filha do meio Sofia, que era solteira, insegura e liberal, um amigo da família Engenheiro conhecido por Chico, adversário do regime e algumas figuras laterais como Bexiguinha e o Bailote, operário agrícola.

Alberto discutia essencialmente as suas ideias com Sofia, Ana e Chico.

A sua vida era bastante monótona, e o facto de ter estudado num seminário leva-me a crer que a procura do seu “eu” está em grande parte relacionada com os ensinamentos religiosos que adquiriu na infância.

Ao longo da obra são descritas várias mortes, e todas elas com uma determinada simbologia. Bailote comete suicídio por ter perdido a fonte do seu rendimento, sendo que a sua existência perde todo o sentido; Cristina, a filha mais nova, morre pois é perfeita demais para viver neste mundo; Sofia morre como punição de todo o mal que tivera feito aos outros, morta por Carolino  Bexiguinha, que tinha ciúmes de Alberto; Bexiguinha e Ana não conseguiram igualar os seus seres e desistiram de lutar pela sua felicidade, o que se pode considerar uma morte psicológica.

Talvez Alberto, o herói que alcançou a sua aparição, possa ser visto como um alter-ego de Vergílio Ferreira, pois se o autor escreveu sobre estas teorias, é porque também pensou sobre elas. O termo "aparição" significa exactamente a revelação instantânea de si a si próprio. A vida de Alberto gira sempre em torno deste mesmo tópico, ele vive constantemente os seus pensamentos e podemos concluir que um dos tópicos principais deste livro, para além do existencialismo é a procura da felicidade.




“Um autor fixa um tema. Mas esse tema, revelando, como revela, um interesse, revela sobretudo que foi só em torno dele que o artista pôde realizar-se como tal.”

                                                                                                                                                                                                                               Vergílio Ferreira

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