O Encoberto
Que
símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que
símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que
símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
Fernando Pessoa inicia o seu poema, questionando retoricamente
quem será o símbolo perfeito para uma nova religião, aquele que substituirá
Cristo na cruz. Quando se refere a uma “aurora ansiosa”, fomenta a ideia que
algo quer renascer, como um dia que se renova. O autor acaba por responder a
sua pergunta dizendo que é a Rosa, a vida que vai tomar o lugar “Na cruz morta
do mundo”, esta advertência refere-se a uma ordem maçónica direta a ordem
Rosa-Cruz. A Rosa nesta estrofe simboliza a vida, a Cruz também é um símbolo,
representado a morte.
O símbolo que na primeira estrofe era fecundo, agora também é algo
divino. Esse símbolo que “Traz o dia já visto” , é algo que já se adivinhava. Cruz representa nesta estrofe o sofrimento
que é o destino. A Rosa é Cristo.
O Símbolo fecundo
e divino agora também é final, pois é definitivo e traz o império final, o império
espiritual. Nesta estrofe há uma revelação do mistério, o conhecimento
completo.
O Bandarra
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso
como universo,
E
plebeu de Jesus Cristo.
Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal
Este poema relaciona-se bastante
com o poema “Ilhas Afortunadas” pois Fernando Pessoa diz-nos em forma de aviso
a chegada de D. Sebastião. Aqui não se trata de um regresso físico mas
espiritual, em Símbolo.
O
primeiro a comunicar o regresso de D. Sebastião, mesmo antes do seu nascimento,
foi “O Bandarra”, chamado Gonçalo Annes, era um sapateiro humilde e profeta
popular. Foi o criador das Trovas,
que aparecem como referência a um Rei Encoberto, calcula-se que Pessoa
encontrou ai uma grande inspiração para o seu texto.
O
autor descreve-nos o espírito de Bandarra. Ele vivia muito a base dos seus
sonhos, não sendo nenhum sábio nem tendo a certeza de nada. Foi escolhido, mas
não pelo seu estatuto social, monetário ou pela sua educação. Bandarra era um
profeta, que tinha sonhos confusos, como o universo, mas ate este faz sentido,
e por isso Pessoa defende o sentido que as Trovas
têm.
Por
fim, Bandarra não era conhecido pelos seus feitos nem coragem, mas foi o eleito
por Deus para dar a Boa Nova.
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