segunda-feira, 8 de abril de 2013

"A religião é o ópio do povo, o entretenimento dos poderosos"

Ao lermos a obra Memorial do Convento de José Saramago estamos a vivenciar um romance histórico onde o autor conta-nos como era a vida naquela época (Primeira metade do século XVIII). Podemos constatar, no decorrer da ação, a existência de duas narrativas simultâneas: uma histórica, que corresponde à construção do convento de Mafra, e uma outra ficcional, que corresponde à construção da passarola, bem como o desenrolar da história de amor entre Baltasar Sete-Sóis e Blimunda “Sete-Luas”. Isto faz com que seja possível distinguir quatro tipos de acção ao longo de toda a obra: a do Rei D. João V (que vai englobar todas os pertencentes da família real), a dos constrututores do convento, a de Baltasar e Blimunda e a de Bartolomeu Lourenço.
Portanto, encontramos, bem evidenciado, diferenças entre os pertencentes da nobre (ricos) e os pertencentes do povo (pobres). Estas diferenças foram bastante importantes para que a Igreja, na altura, conseguisse ganhar poder. Porém, como é que esta instituição religiosa conseguiu ser tão importante na sociedade na altura?
O povo português era facilmente manipulado pela Igreja, graças aos seus mandamentos e princípios. O próprio rei e os restantes elementos da corte também estão incluídos nesta categoria, pois aceitam todos os desejos e interesses da Igreja que ninguém ousa sequer contestar ou interrogar, sob risco de ser acusado de blasfémia.
A religião era um verdadeiro “ópio popular”. Era a forma perspicaz e inteligente de que a igreja dispunha para manter a ordem e os seus grandes lucros. O povo miserável, vivia continuamente na esperança de um milagre. É, na ignorância, um povo feliz que “desce à rua para ver desfilar a nobreza toda”, esquecendo que são estes os responsáveis pela sua desgraça. No entanto, “este povo habituou-se a viver com pouco” e não é capaz de evidenciar uma atitude crítica, nem de assumir uma postura de revolta, de tal forma que vive hipnotizado com os dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou pensamentos que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé, encarados também como diversão, tal como as touradas.
Com isto tudo, a Igreja sabe tirar partido da sua posição de superioridade e da influência que exerce, funcionando simultaneamente como entretenimento e como tribunal, alertando a todos para os perigos que correm caso os mandamentos da santa Igreja não sejam respeitados. Por outras palavras, na obra, não conseguimos distinguir o estado da Igreja, pois um está a ser influenciado pelo outro. Tudo decidido pelo estado tem que corresponder aos princípios da Igreja.
Porém, como acontece em muitos momentos da história mundial, o poder pode corruptar os elementos de uma instituição. Vemos, no decorrer da ação, elementos do clero que desrespeitam os votos que fizeram, submetendo-se à vaidade, à luxúria, à gula, entre outros. Estes pecados são os que enganam o povo, com o intuito de o manter ignorante e mais facilmente manipulável.

Sem comentários:

Enviar um comentário