Ao
lermos a obra Memorial do
Convento
de José Saramago estamos a vivenciar um romance histórico onde o
autor conta-nos como era a vida naquela época (Primeira metade do
século XVIII). Podemos constatar, no decorrer da ação, a
existência de duas narrativas simultâneas: uma histórica, que
corresponde à construção do convento de Mafra, e uma outra ficcional, que corresponde à construção da passarola, bem como o
desenrolar da história de amor entre Baltasar Sete-Sóis e Blimunda
“Sete-Luas”. Isto faz com que seja possível distinguir quatro
tipos de acção ao longo de toda a obra: a do Rei D. João V (que
vai englobar todas os pertencentes da família real), a dos
constrututores do convento, a de Baltasar e Blimunda e a de
Bartolomeu Lourenço.
Portanto,
encontramos, bem evidenciado, diferenças entre os pertencentes da
nobre (ricos) e os pertencentes do povo (pobres). Estas diferenças
foram bastante importantes para que a Igreja, na altura, conseguisse
ganhar poder. Porém, como é que esta instituição religiosa
conseguiu ser tão importante na sociedade na altura?
O
povo português era facilmente manipulado pela Igreja, graças aos
seus mandamentos e princípios. O próprio rei e os restantes
elementos da corte também estão incluídos nesta categoria, pois
aceitam todos os desejos e interesses da Igreja que ninguém ousa
sequer contestar ou interrogar, sob risco de ser acusado de
blasfémia.
A
religião era um verdadeiro “ópio
popular”.
Era a forma perspicaz
e
inteligente de que a igreja dispunha para manter a ordem e os seus
grandes lucros. O povo miserável, vivia continuamente na esperança
de um milagre. É, na ignorância, um povo feliz que “desce
à rua para ver desfilar a nobreza toda”,
esquecendo que são estes os responsáveis pela sua desgraça.
No
entanto, “este
povo habituou-se a viver com pouco”
e não é capaz de evidenciar uma atitude crítica, nem de assumir
uma postura de revolta, de tal forma que vive hipnotizado com os
dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou pensamentos que possam
significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé, encarados
também como diversão, tal como as touradas.
Com
isto tudo, a Igreja sabe tirar partido da sua posição de
superioridade e da influência que exerce, funcionando
simultaneamente como entretenimento e como tribunal, alertando a
todos para os perigos que correm caso os mandamentos da santa Igreja
não sejam respeitados. Por outras palavras, na obra, não
conseguimos distinguir o estado da Igreja, pois um está a ser
influenciado pelo outro. Tudo decidido pelo estado tem que
corresponder aos princípios da Igreja.
Porém,
como acontece em muitos momentos da história mundial, o poder pode
corruptar os elementos de uma instituição. Vemos, no decorrer da
ação, elementos do clero que desrespeitam os votos que fizeram,
submetendo-se à vaidade, à luxúria, à gula, entre outros. Estes
pecados são os que enganam o povo, com o intuito de o manter
ignorante e mais facilmente manipulável.
Sem comentários:
Enviar um comentário