domingo, 12 de dezembro de 2010

Síntese da Apresentação

Endechas a Bárbara Escrava

Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

Ua graça viva,
que neles lhe mora,
pera ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbara não.

Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e,pois nela vivo,
é força que viva.

Poema da página 144

Este poema é um canto à beleza de uma mulher negra e escrava por quem o eu poético se apaixonou, chamada Bárbara.
Uma beleza exótica, pois naquela época as mulheres ideais eram caracterizadas como sendo mais brancas que a neve, cabelo da cor do trigo e uma personalidade inacessível (modelo de mulher petrarquista).
No entanto, o eu poético rompe esse modelo, afirmando que os cabelos negros de Bárbara são mais belos que os louros, e os seus olhos escuros possuem uma "graça viva".
Apesar de ser uma escrava, Bárbara é descrita como tendo uma grande leveza e uma suavidade superior - "bem parece estranha,/mas bárbara não".
Assim, pelo poder de sedução que emana da sua pessoa, a cativa torna-se "Senhora" do seu Senhor, dona do seu dono.

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